História
do Haicai |
Matsue Shigeyori (16021680) |
aki ya kesa
hitoashi ni shiru
nogoien
Tradução:
Pelo pé se sabe
Primeira manhã de outono
Na varanda limpa.
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O dia mal amanhece e alguém se levanta,
caminhando pelo chão forrado de tatames do interior da casa. Quando
chega a vez de seus pés descalços tocarem a madeira fria da
varanda, ocorre a percepção de que algo está diferente.
Pelas solas de seus pés, o poeta subitamente se dá conta de
que o outono chegou, sensação intensificada pelo piso limpo
e lustroso. A expressão nogoien refere-se à varanda (engawa)
esfregada (nugui) com pano. Embora exista um trocadilho (tão característico
da escola Teimon) no uso da expressão hitoashi, que se refere tanto
ao pé real (pelo pé se sabe) quanto ao caráter
instantâneo da percepção (de repente, se sabe),
não é daí que vem o valor do poema. Na verdade, o vigor
dos versos vem da ênfase dada à captura de uma sensação
efêmera, aproximando Shigeyori dos autores mais modernos. O kigo é
kesa no aki, traduzido como primeira manhã de outono,
e refere-se não ao equinócio de outono, mas ao dia entre o
solstício de verão e o equinócio de outono, que, segundo
o calendário chinês, marca a chegada da estação.
Para o calendário ocidental, esse dia seria aproximadamente 8 de
agosto (no hemisfério norte). |
yaa shibaraku
hana ni tai shite
kane tsuku koto
Tradução:
Espere um pouquinho
Em respeito às flores
Antes de tocar o sino.
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Neste haicai, ocorre o aproveitamento de dois
momentos da literatura clássica: um é a peça Nô
Encontro no templo Miidera, de onde se aproveita a fala: Espera um
momento. Por que tocas este sino como louca?. O outro é um
tanka de autoria de Nôin, presente na antologia imperial Shin-kokinshû
(1205): Na primavera,/ ao entardecer,/ numa aldeia entre as montanhas,/
as flores vêm ao chão/ ao sino do pôr-do-sol. Com
bom humor, o haicai pede que se suspenda o toque do sino enquanto dura a
florada tão delicada das cerejeiras, cujas flores poderiam desabar
com as vibrações. O extremo coloquialismo do primeiro verso
é uma característica que vai encontrar eco na futura escola
Danrin, de Sôin, de quem Shigeyori foi amigo e professor. Shigeyori
formou, junto com Ryûho, Teishitsu, Kigin e outros o grupo dos sete
discípulos mais proeminentes de Teitoku e da escola Teimon. Entretanto,
por seu caráter independente e obstinado, acabou por distanciar-se
do mestre. Sua relação com Sôin, fundador da escola
Danrin, estende uma ponte entre as duas principais escolas pré-Bashô.
O kigo é flor (primavera). |
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