(Texto
e foto: NippoBrasil)
Quem
imaginaria que a história do bairro da Liberdade, conhecido
pelos seus atrativos culturais, foi marcada por fatos sombrios,
como os enforcamentos na Praça da Liberdade, antigo Largo
da Forca. Nesta edição, o NIPPO-BRASIL faz
uma viagem ao passado que remonta à época colonial
para contar como se deu o surgimento da Liberdade, um dos bairros
mais tradicionais de São Paulo.
Surgimento
Assim
como outras localidades da cidade, a área que abriga a
Liberdade surgiu a partir do loteamento de chácaras existentes
até o século 19. Desde então, o bairro passou
por um processo de ocupação, principalmente de imigrantes
japoneses.
Até
o século 17, a região permaneceu praticamente despovoada,
mesmo sendo passagem do fornecimento de produtos de São
Paulo para Santo Amaro, Santos, etc. Nessa época, a principal
atividade econômica era o fornecimento de gados que percorriam
algumas estradas, onde ergueram-se chácaras e algumas casas.
A Liberdade era considerada uma área periférica
até o século 19, quando era conhecida como Bairro
da Pólvora, graças à Casa de Pólvora,
construída em 1754 no atual Largo de mesmo nome.
Enforcamentos
Quem
hoje passa pela Praça da Liberdade talvez não saiba
que o local foi o palco sombrio de execuções. Conhecida
na época colonial como Largo da Forca, recebeu esse nome
devido à forca transferida da Rua Tabatinguera em 1604
(veja a história no box ao lado). No largo houve execuções
de criminosos e escravos até 1891, quando recebeu o nome
de Liberdade.
As
versões mais aceitas sobre a origem dessa denominação
devem-se às punições ocorridas no século
19. Nessa época, as pessoas aguardavam a execução
na Igreja dos Aflitos. Após a pena, os corpos eram velados
na Igreja dos Enforcados. Na Igreja das Almas era feita uma missa
aos condenados, explica Angelina Obata, pesquisadora do
Museu Histórico da Imigração Japonesa no
Brasil.
Ossadas
Próximo
ao antigo Largo da Forca, foi instalado em 1779 o primeiro cemitério
público aberto em São Paulo, entre as ruas Galvão
Bueno, Glória e Estudantes. O local era destinado ao sepultamento
de indigentes e condenados à forca até 1858, quando
foi criado o Cemitério da Consolação, em
um terreno doado pela Marquesa de Santos. As marcas desse antigo
cemitério estão presentes até hoje. Lembro-me
da época que achavam ossadas em terrenos onde foram instaladas
muitas casas comerciais. Com certeza, ainda existem alguns terrenos
onde ainda estão enterrados alguns corpos pertencentes
ao extinto cemitério, conta o comerciante Nelson
Ferreira Dias Rodrigues, 78 anos, morador que nasceu e vive no
bairro.
Loteamentos
A
partir de 1810, no então Bairro da Pólvora acentuou-se
a concessão de terras, vendas e partilhas de sítios
instaladas no local. Devido ao crescimento populacional em São
Paulo, em 1850, as autoridades pressionaram os proprietários
de diversos terrenos da cidade para aproveitarem melhor seus lotes.
Muitos latifundiários abriram ruas, alamedas e largos em
suas propriedades, fazendo arruamentos e loteações,
decisivos na estruturação da Liberdade.
Durante
o século 19, o bairro foi habitado por imigrantes portugueses
e italianos que permaneceram no local até a primeira década
deste século. Eles construíram casarões,
sobrados e palacetes que transformaram-se mais tarde em pensões,
repúblicas - onde viveram imigrantes japoneses a partir
da década de 20.
Entre
1833 até o início do século 20, a área
que corresponde à Liberdade pertencia ao Distrito Sul da
Sé. Contudo, através da lei municipal n.º 975
de 1905, a região foi desmembrada e denominada como Distrito
da Liberdade. Desde então, várias ruas foram criadas
viabilizando a urbanização.
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Praça da Liberdade, antigo Largo da Forca
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O bairro
da Liberdade recebeu a denominação de Largo da Forca
porque entre as várias localidades de São Paulo,
foi escolhido para abrigar uma forca destinada à execução
da pena de morte. Mas antes de lá ser construída,
o instrumento do suplício dos condenados rodou por várias
regiões da capital.
A primeira
forca erguida em São Paulo para punir escravos e criminosos
foi no tempo colonial, na rua Tabatingüera. Nesse local,
em 1592, existia o velho Convento do Carmo. Os frades, constrangidos,
pediram que as execuções fossem dali transferidas.
O novo local escolhido foi o caminho do Birapuera,
que levava a Santo Amaro.
Mas
devido a novas reclamações, a forca foi retirada
de lá e a Liberdade passou a ser o novo local de execuções.
E uma das cenas mais cruéis foi perpetrada ali. O Governo
Provisório tentou abafar um levante militar. Duas execuções
causaram grande clamor popular, a de Cotindiba e Chaguinhas. O
primeiro morreu rápido, mas o segundo não. As cordas
que o enforcariam arrebentaram várias vezes. O público
pedia clemência e gritava: Liberdade, Liberdade!
Como o ato não se consumava, morreu a pauladas. Daí
por diante, passou Chaguinhas a ser héroi. O povo, para
consagrar-lhe martírio, erigiu uma capela com o nome de
Santa Cruz dos Enforcados. Em lembrança ao Chaguinhas,
manteve-se a prática de acender velas pelas almas do purgatório.
E foi assim que o Largo da Forca passou a ser Largo da Liberdade.
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Beco
dos Aflitos
Lembra a existência do primeiro cemitério público
aberto em São Paulo nos idos de 1848. A Capela dos Aflitos,
onde é venerada Nossa Senhora dos Aflitos (daí o
nome do beco), ocupava o centro do cemitério, conhecido
como Cemitério dos Enforcados.
Rua
dos Estudantes
Lembra a existência de antigas repúblicas de
estudantes.
Rua
Conselheiro Furtado
Homenagem a Francisco Maria de Souza Furtado de Mendonça,
que nasceu em Loanda, na África, mas veio criança
para o Brasil. Desde 1851, exercia o cargo de delegado de polícia.
Morreu em 23 de maio de 1890.
Rua
Galvão Bueno
Homenagem a Carlos Mariano Galvão Bueno nascido na
cidade de São Paulo em janeiro de 1834. Formou-se em Direito
em 1860. Morreu afogado em maio de 1883, quando pescava nas águas
do Tamanduateí.
Rua
da Glória
Local onde se localizava a chácara de Nossa Senhora
da Glória. Em 1825, o presidente da Província, Lucas
Antonio Monteiro de Barros, criou no local o Seminário
das Educandas de Nossa Senhora da Glória.
Avenida
Liberdade
Pela Lei nº 4.211, de março de 1952, passou a
denominar-se Avenida Liberdade. Em 1822, chamava-se Rua da Pólvora.
Praça
da Liberdade
Essa denominação, dada ao velho Largo da Forca,
lembra a abolição da escravatura do Brasil, em maio
de 1888. Em 1822,denominava-se Campo da Forca.
Rua
Conde de Sarzedas
Homenagem a Bernardo José de Lorena, o Conde de Sarzedas,
foi capitão-general de São Paulo de 5 de junho de
1788 a 27 de junho de 1797.Era fidalgo português.
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