Tomie
Ohtake apesar de reservada abriu uma exceção e contou
resumidamente sua trajetória de vida.
Nascida
em Quioto, no Japão, foi lá que Tomie deu os primeiros
passos na arte. Estudou shodô (arte da caligrafia japonesa)
e sumiê (pintura à tinta nanquim). Como moça
japonesa, era uma exigência da minha mãe por causa
do casamento. Era uma preparação para o casamento.
Hoje esqueci tudo!, conta.
Aos
23 anos ela veio ao Brasil visitar o irmão, e mesmo nunca
tendo pensado em morar fora do Japão, por causa da Segunda
Guerra Mundial, acabou se instalando em São Paulo. Casou
com o engenheiro agrônomo japonês Ishio Ohtake. Formou
família e durante 15 anos só se dedicou à
ela. Mesmo antes de casar eu queria ser artista, pintora,
mas achava o casamento muito importante, a família é
muito importante. Decidi seguir meu caminho, enfatiza.
A
vontade da artista
Com
os filhos crescidos, em 1952, ela retomou seu antigo desejo de
ser pintora e teve algumas aulas com o artista japonês Keisuke
Sugano. Seis anos depois, já fazia sua primeira mostra
individual no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).
Desde essa primeira exposição foi aplaudida pela
crítica: Fiquei assustada com o sucesso. O crítico
Geraldo Ferraz, do Estado de São Paulo, escreveu maravilhosamente!,
lembra Tomie.
Ela
também se recorda do incentivo que teve: Naquele
tempo eu conheci duas pessoas que me incentivaram muito. O ex-diretor
do Goethe ,que morreu há pouco tempo e o médico
Ozório César (que foi casado com a pintora Tarsila
do Amaral).
Em
1968 Tomie se naturalizou brasileira. Naquela época,
o governo não ajudava os estrangeiros, só os artistas
brasileiros. Havia ajuda de custo para exposições,
transporte e estadia... Agora, nem sendo brasileiro...,
critica.
Mas
o amor pelo país que consagrou o seu trabalho é
forte. Hoje em dia gosto mais do Brasil. Nunca vou esquecer
o Japão, mas atualmente gosto mais daqui!, revela.
Maquete da escultura de Tomie Ohtake,
Praça Pedro Melo - Pampulha - Belo Horizonte, feita em
aço com 40 metros de comprimento.
O
país natal
Traços
de seu país natal na sua obra, segundo Tomie Ohtake, são
reflexo de sua formação: Essa influência
se verifica na procura de síntese: poucos elementos devem
dizer muita coisa. Na poesia haikai, por exemplo, fala-se do mundo
em 17 sílabas. Sendo poucos os elementos, eles devem ser
muito precisos, tanto na forma quanto nas cores e nas relações,
define.
Mas
assim como sua obra é ocidental, a artista também
é brasileira e conta que ficou muito triste ao saber que
no Japão, quando alguns dekasseguis entravam em lojas e
anunciava-se no alto falante para que as pessoas tomassem cuidado:
É uma coisa muito ruim, uma vergonha! Por causa de
alguns todos brasileiros terem que passar por isso!
A
família e o trabalho
A
rígida educação japonesa que recebeu, a mãe
Tomie não repassou aos filhos. Tive muita sorte com
minha família. Acho que a gente não pode ser muito
exigente nem deixar os filhos totalmente livres, principalmente
por causa das drogas, diz a última frase em voz mais
baixa, como qualquer mãe preocupada.
Perguntada
sobre sua influência na escolha profissional dos filhos,
os arquitetos Ruy e Ricardo, ela garante que não teve participação
direta: Nunca disse para fazerem isso ou aquilo. Cada um
tem sua idéia, sua liberdade de pensar.
O projeto
do Instituto Tomie Ohtake foi realizado pelos dois e Ricardo atualmente
é o presidente: Eles conseguiram construir um espaço
totalmente dedicado à arte, foi pensado para isso. Foi
uma vitória para meus filhos, se orgulha.
Sobre
o que ainda pretende realizar, a artista diz não pensar
nisso, só quer continuar trabalhando... (Quando nos desculpamos
por tomar tanto tempo, garantiu que nos desculpou, mas disse,
gentilmente, que precisa voltar ao trabalho!)
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