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Originário dos templos budistas, o jardim japonês
é ideal para aqueles que buscam tranqüilidade em meio ao caos
da vida cotidiana
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Vista
parcial do jardim do Pavilhão Japonês,
no Parque do Ibirapuera; do outro lado, há lago com carpas
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Arquivo
Jornal NippoBrasil
Um
espaço que o livre do estresse, onde é possível
sentir paz, meditar e contemplar o espetáculo proporcionado
pela natureza. Assim é o jardim japonês, cuja origem
data do século 14 e o surgimento está relacionado
à necessidade de criar espaços especiais onde os
monges zen-budistas, saídos da China para o Japão,
pudessem fazer suas orações e meditações.
Diante
da correria diária, a vontade que dá ao visitar
um jardim japonês é de possuir um oásis
como aquele só para você. Esse sonho é possível
e tem sido realizado por muitas pessoas (veja as histórias
de alguns proprietários ao longo da matéria). Porém,
construir um jardim japonês acaba não sendo um sonho
acessível a qualquer bolso. Um jardim com cerca de 20 metros
quadrados com lago, cascata, sistema de filtragem, lanternas e
paisagismo pode sair por R$ 20 mil a R$ 25 mil, incluindo a mão-de-obra.
Dependendo do tamanho, esse valor pode ultrapassar R$ 200 mil.
Segundo
a paisagista Ivani Kubo, o que acaba onerando os custos é
o lago. Caso a pessoa opte por um jardim sem esse elemento, o
preço sai mais em conta: R$ 8 mil. Mas uma vez implantado,
o jardim japonês não é como um no estilo tropical
que exige um jardineiro todo mês. A longo prazo, o custo
vai sendo diluído, já que a poda das plantas é
feita uma vez por ano.
Outro
fator que faz do jardim japonês um projeto caro são
os preços das plantas. Como geralmente os paisagistas entregam
o jardim todo pronto, eles adquirem plantas já formadas,
que acabam custando mais. No caso do pinus japonês
(matsu), existem mudas importadas que chegam a custar R$ 50 mil,
já que demoram de 20 a 30 anos para se formarem,
explica Shinzo Okuda, paisagista que há 30 anos trabalha
com jardim japonês.
Azaléias,
buchinhos, podocarpos podados, com tamanho médio, também
muito utilizados no jardim japonês têm preços
que variam entre R$ 100 a R$ 500. Os toros, tradicionais lanternas
japonesas, variam conforme o material utilizado na confecção
e o tamanho: os importados, de granito, valem até US$ 4,5
mil. Já as versões de concreto variam de R$ 120
a R$ 320.
Assim
como na construção de uma casa, os custos do projeto
vão depender do material de acabamento preferido.
Mas no final das contas, a satisfação em vê-lo
pronto acaba superando todo o investimento. E o jardim, além
de resgatar a cultura oriental, funciona como uma forma de unir
a família. Esse momento dedicado ao jardim, de dar
ração para as carpas, por exemplo... São
situações que trazem os filhos para dentro de casa,
conclui Kubo.
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Um
pé de sakura no jardim
Sakura: paz no jardim
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Ao
entrar na espaçosa sala da casa da professora de ikebana
Corina Wai, os olhos se enchem e se voltam automaticamente para
o espetáculo proporcionado em seu exterior. Anexo à
sala, um jardim japonês é avistado através
de portas de vidro transparente. E mais ao fundo, à esquerda,
a bela paisagem é entrecortada por uma explosão
de flores rosas.
A
estrela do jardim é o sakura. Ela floresce no inverno;
na primavera ela se enche de flores verdes clarinhas. O intervalo
em que ela perde as folhas e se prepara para dar flor é
um suspense. A gente observa se o botão está vindo,
e quando dá flor é aquela alegria, descreve
Corina, que este ano fez até hanami (ritual
para apreciar a floração) com as amigas.
O jardim
japonês, projetado por Shinzo Okuda, é com certeza
um dos pontos mais importantes da casa. De qualquer cômodo
da construção é possível avistá-lo.
Uma
pedra e um banco foram propositadamente colocados embaixo do sakura,
trazido de Okinawa, de onde é possível avistar o
horizonte e apreciar o pôr-do-sol. É um lugar
de contemplação. Realmente, o jardim transmite muita
paz, afirma.
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Um
jardim para os bonsais
Jardim:
Local para meditação
Primeiro
veio a paixão pelos bonsais e a criação do
Bonsai Center Romagnole, em Mandaguari, no Paraná, espaço
que tempos atrás já serviu de residência e
hoje funciona como entidade cultural que visa disseminar a arte
do cultivo das árvores em miniatura. A necessidade de criar
um ambiente acolhedor para acomodar os bonsais motivou o empresário
Vicente Romagnole a montar o jardim japonês há 15
anos.
O belo
jardim é composto de uma cascata central, uma ponte de
granito feita a mão, lanternas importadas de Kioto, pedras
cerca de 30 toneladas -, um portal e plantas importadas
de Saitama, Yokohama e outras províncias do Japão.
Presente de uma família de Okinawa que conheceu durante
uma viagem ao arquipélago, uma glicinia que uma vez por
ano se enche de flores lilás é o grande xodó
do empresário. Meu jardim é um local para
meditação, diz.
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O
jardim de Manabu Mabe
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Em uma área de 4,5 mil metros quadrados, o jardim
pode ser apreciado de todos os ângulos
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Quero
construir um jardim como aquele. Este foi o desejo que sempre
esteve na minha mente, desde que imigrei, confessou Manabu
Mabe, um dos maiores ícones da arte nipo-brasileira falecido
em 1997, na autobiografia Chove no Cafezal.
O jardim
a que se referia Mabe era o que povoava suas reminiscências
de infância. Na casa onde nasceu, em Kumamoto, no Japão,
tinha nos fundos um espaçoso jardim japonês,
com montículo artificial e no pátio havia um lago,
onde costumava nadar.
Construído
nos anos 60 na casa onde viveu, no Jabaquara, em São Paulo,
o jardim abrange uma área de 4,5 mil metros quadrados.
É um jardim que você vê de todos os ângulos,
conta o arquiteto Ken Mabe, que acompanhou o projeto com o pai.
Como
todo artista que se preze, o jardim não deixou de incorporar
um toque pessoal de seu criador. Além dos elementos típicos,
há árvores frutíferas que dão o tom
tropical ao local. Tem pé de manga, jabuticaba,
pés de pinheiro. Meu pai incorporou outras plantas brasileiras,
mas nada que agrida o conjunto., explica artista plástico
Yugo Mabe.
Hoje
dois jardineiros se revezam na preservação do sonho
de Mabe. Sua mulher, Yoshino, e os dois filhos, ainda vivem no
local que desde 1998 abriga o Instituto Manabu Mabe, onde estão
conservadas as obras do artista. O jardim é uma delas.
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Os
elementos do jardim japonês
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lago e carpas - a água representa a vida, enquanto as
carpas são símbolo de fertilidade e prosperidade.
A variedade Nishikigoi exige água cristalina, que é
obtida por meio da instalação de uma bomba e um filtro
biológico para garantir a circulação da água.
Dependendo do tamanho, cor, variedade e estampa, há carpas
que custam R$ 20 e outras que ultrapassam R$ 30 mil. |
pedras da cascata e queda dágua o centro
do jardim. Além de oxigenar a água, a cascata significa
a continuidade da vida. A posição das pedras, geralmente
em números ímpares, são uma analogia da formação
do homem e a sociedade: a princípio só, depois em
grupo (como pai, mãe, descendentes). A pedra colocada em
posição vertical representa o pai, e na horizontal,
a mãe. As outras pedras simbolizam os descendentes, sendo
distribuídas em torno do lago. |
lanterna (toro) elemento que induz à concentração,
cujo significado é a iluminação da mente para
quem, meditando, percorre os caminhos do jardim. |
bambu os galhos do bambu são amarrados de forma
que a planta cresça se curvando para o lago, como em reverência
e respeito àquele que aprecia o jardim. |
fonte (tsukubai) quando o elemento água não
existe no jardim japonês, sua representação
é feita por desenhos em pedriscos ou ainda por uma espécie
de cuba com água (tsukubai), originário das cerimônias
do chá, que representa o ritual simbólico de lavar
as mãos para purificar-se antes da meditação
no jardim. |
plantas as mais utilizadas são geralmente as azaléias,
buchinhos, nandinas, camélias, podocarpos, juníperos.
Próximas ao lago: moréias, papirus japônico,
ardísias crispas. E plantas com maior volume, como bambu
mossô e pinheiro matsu. |
Fonte:
Shinzo Okuda e Ivani Kubo
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Arquivo
Edição 171 - 4
a 10 de setembro de 2002 - Especial - Portal NippoBrasil
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