Ao completarem sete anos, as meninas recebem pela primeira
vez o obi do quimono
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(Arquivo
NippoBrasil)
Ao
traçar um paralelo com a cultura brasileira, dificilmente
conseguimos encontrar tantas idades consideradas marcantes quanto
é possível verificar na tradição japonesa.
Com exceção dos 15 anos, que marca a entrada da
jovem à vida adulta e a realização da famosa
festa de debutantes, e das tradicionais comemorações
relacionadas à duração do casamento como
as Bodas de Papel, Prata, Ouro e Diamante, as idades ditas marcantes
são escassas.
Já
o povo japonês, com toda sua tradição e cultura
milenares, preserva uma série de idades marcantes com espécies
de rituais de passagem durante a vida. Já ao 7o dia de
nascimento do bebê, acontece uma das primeiras celebrações.
Em tempos mais precários e antigos, como a probabilidade
de se criar uma criança saudável era baixa, comemorava-se
o 3º, 5º, 7º e 9º dias de vida.
Os
japoneses também costumam levar suas crianças recém-nascidas
aos templos meninos no 30º dia de vida e meninas,
no 31º para apresentá-las aos kami (deuses)
e assim se tornar ujiko (afilhados), ganhando proteção
das divindades Ujigami e Ubusuma.
Bem
mais para frente há as chamadas idades críticas
(Yakudoshi), que merecem uma atenção especial dos
acometidos, já que infortúnios podem surgir no período.
O Zashi traz a seguir algumas das principais idades comemoradas
no Japão.
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Cinco
e sete anos
Fora
a celebração do 7º dia de nascimento e da primeira
visita a um templo xintoísta, uma outra data marcante que
é comemorada pelas crianças é a do cinco
anos, no caso dos meninos, e dos sete anos, meninas.
Antigamente,
meninos da classe nobre (samurai) eram oficialmente apresentados
aos senhores feudais ao completarem cinco anos. O motivo envolve
misticismo e superstição: a idade de quatro anos,
corresponde a shi, em japonês; e na palavra
shinu (morte) há a presença do mesmo
prefixo shi. A apresentação não
poderia ser feita antes desse período, considerado nefasto.
Na cerimônia, os meninos trajam pela primeira vez o hakama
(quimono masculino).
Já
as meninas, aos sete anos, recebem pela primeira vez o obi (faixa
que prende o quimono), em substituição a tira de
pano solta e simples. O obi representa o ingresso delas na primeira
etapa da vida adulta.
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Festival
das Crianças (Shiti-Go-San)
Comemorado
no dia 15 de novembro, nesse dia meninos e meninas de sete, cinco
e três anos de idade, vestidos com elegantes trajes, são
levados pelos pais a templos para agradecer pelas graças
recebidas e rogar por nova proteção na vida adulta.
Desde o tempo dos samurais, acredita-se que divindades protetoras
(Ujigami e Ubusuma) protegem e zelam pela saúde e crescimento
das crianças.
Após
a visita ao templo onde estão o Ujigami e Ubusuma são
realizadas festas para as crianças, que recebem presentes
de amigos e parentes. O amê (balas, doces embrulhados em
pacotes multicoloridos) é distribuído pela mãe
or toda vizinhança para atrair sorte.
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Pessoa
do Ano (Toshi Otoko e Toshi Onna)
Na
tradição japonesa, os nativos do signo regente do
ano são chamados de toshi otoko (homem do ano) e toshi
onna (mulher do ano). Em 2019, os homens e mulheres do ano são
os nativos do signo do Javali, e segundo a crença, essas
pessoas passam energias positivas para os outros durante todo
o ano. Isso significa que além de um período positivo
em suas vidas, a convivência amigável com os nativos
desse signo este ano é uma boa pedida.
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As idades de 33 anos (mulheres) e 42 anos (homens) são consideradas
especiais
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Yakuire
e Yakubarai
Os
japoneses costumam organizar festas no período anterior
(yakuire) e posterior (yakubarai) ao Yakudoshi, como forma de
reunir energias positivas para enfrentar o período. Yakuire
é a festa que familiares e amigos oferecem à mulher
aniversariante que completa 33 anos e ao homem, na comemoração
dos 42. Na ocasião, o aniversariante tem que usar trajes
do sexo oposto para enganar o azar. Segundo o folclore,
a entidade malevolente Ushitora no Konjin vem para encostar
no aniversariante de Yakudoshi, mas vai embora já que não
consegue identificar o homenageado.
De
acordo com a seita Zenchi, é perigoso comemorar o Yakuire
em ano errado, com risco do homem ficar impotente num prazo de
sete anos. Para reverter isso, seria preciso fazer sete anos de
yakubarai (festa de agradecimento) ou uma grande prece.
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33
e 42 anos (Yakudoshi)
Infortúnios,
acidentes, período de azar, inferno astral. Dá um
frio na espinha só de pensar, não? Pois para aqueles
que estão nas idades consideradas críticas (yakudoshi),
todo cuidado é pouco. Essas idades variam um pouco conforme
a região, mas normalmente para os homens são os
25 e 42 anos, e para as mulheres, 19 e 33 anos.
Os
homens devem tomar um cuidado maior com os 42 anos, idade conhecida
como Taiyaku ou Hon`yaku (mais perigosa),
cuja leitura em japonês dos números 4 e 2 (shi e
ni), juntos formam a palavra morte. Já as mulheres têm
que redobrar a atenção aos 33 anos, já que
os números 3 e 3 (sanzan) remetem às dificuldades.
Grande sofrimento acometerá o sexo feminino aos 19 anos,
se depender da junção dos números 1 e 9 (juuku).
O ano
anterior ao Yakudoshi, chamado Maeyaku, e o posterior, Atoyaku,
também são considerados perigosos. Para a contagem
da idade crítica, deve-se considerar o kazoedoshi,
isto é, um ano acrescido à idade da pessoa. Por
exemplo, um homem que tem 41 anos, nesta contagem que leva em
conta também o ano do nascimento daí a adição
de um ano já está no Yakudoshi.
No
dia 1o de fevereiro (a data pode variar conforme a região),
nas casas com pessoas em Yakudoshi, comemora-se novamente o Ano
Novo, com a intenção de afastar a má sorte
da idade e fazer de conta que o ano já passou.
O Yakudoshi pelo mundo
Inglaterra: Cada região tem sua versão, mas
normalmente para os homens são as idades que terminam em
4 e para as mulheres, aquelas com final 7. Para espantar o azar,
pega-se avelãs em número correspondente à
idade crítica da pessoa, deixando-as expostas ao ar livre
por 3 dias e 3 noites. Depois, deve-se queimá-las num jardim
próximo. Quanto mais pessoas visitarem esse jardim, maior
é a eficácia.
Espanha: Muito similar ao Japão. Para as mulheres as
idades críticas são 14 e 34 anos, e homens, 24 e
44 anos. A receita para espantar o mau agouro é um tanto
exótica: tanto o homem como a mulher em idade crítica
devem comer pedaços de carne de cavalo em número
correspondente à idade, na presença de amigos e
parentes. Após a degustação,
deve-se passar horas vale até varar a noite
cantando e dançando para espantar os maus fluidos.
Egito: Variando conforme a religião e a região,
as idades mais conhecidas como críticas tanto para homens
como para mulheres são contadas a partir de 4 anos de idade
e de 4 em 4 anos até a casa dos 50 anos. Costuma-se confeccionar
uma veste com retalhos recolhidos nas casas de idosos da vizinhança
como antídoto contra a fase ruim. Segundo a tradição,
ao vestir esse traje, tira-se o mau agouro da idade.
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60
anos (Kanreki - Honkegaeri)
Uma
grande festa denominada Kanreki ou Honkegaeri, cujo significado
tem a ver com o aniversariante que renasceu, é
feita àqueles que completam 60 anos com objetivo de somar
energias para que eles encarem o novo ciclo de vida. No Horóscopo
Oriental, há o chamado Ciclo dos 60 anos, que
corresponde a um período completo.
Nessa
festa, realizada por parentes e amigos, o aniversariante veste
roupa vermelha de criança, com babador e rendinhas, tendo
ainda que tomar saquê ou cerveja na mamadeira e colocar
chupetas durante o parabéns a você.
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