Arquivo
Jornal Nippo-Brasil
Desde
que chegaram ao Brasil, em 1908, a bordo do navio Kasato Maru,
muitos imigrantes japoneses passaram a fazer muito pelo desenvolvimento
do País. As primeiras levas foram contratadas para trabalhar
em lavouras de café. Com o passar do tempo, conquistaram
seu próprio espaço e tornaram-se agricultores. Outros,
no entanto, destacaram-se em outras áreas.
Mas
uma coisa é certa: muitos tiveram um papel importante dentro
da sociedade brasileira. Basta sairmos às ruas de São
Paulo para vermos o número de ruas, avenidas, praças
e viadutos que levam nomes de imigrantes japoneses, homenageados
por desenvolverem trabalhos em prol da comunidade.
Nesta
edição, o Nippo-Brasil resgata a história
de algumas dessas pessoas e revela porque elas foram homenageadas
nesta cidade que as acolheu.
Rua
Comendador Kiyoshi Yamamoto - Butantã
DUAS GERAÇÕES - Carlos Tan Yamamoto em rua com o
nome de seu pai, Kiyoshi Yamamoto (detalhe)
Kiyoshi
Yamamoto nasceu em Tóquio, Japão, no ano de 1892.
Durante toda a sua vida, dedicou-se aos estudos da agronomia.
Formou-se agrônomo pela Universidade Imperial de Tóquio.
Por ser um dos melhores alunos de sua turma, foi contratado pelo
Barão Iwazaki, fundador da Mitsubishi, para trabalhar na
Fazenda Koiwai onde, durante um ano, se dedicou à criação
de cavalos e gado leiteiro. Depois, foi enviado para a China,
permanecendo durante sete anos em outra propriedade da empresa,
desta vez, atuando na cultura de algodão.
Em
1927, chegou ao Brasil com sua família para fundar uma
fazenda-modelo, além de dirigir outras atividades da Mitsubishi.
Durante dez anos, trabalhou na Fazenda Ponte Alta, rebatizada
de Monte DEste, implantando uma agricultura moderna.
Em
1940, a Mitsubishi indicou-o para presidente da organização
no Brasil. Meu pai era muito idealista, empreendedor e muito
inteligente também. Era uma pessoa fora dos padrões
da época, sem preconceito, e que gostava muito de modernidade,
lembra Carlos Tan Yamamoto, 80, um dos quadro filhos de Kiyoshi.
Mas
as conquistas do patriarca Yamamoto não acabam por aí.
Kiyoshi ainda foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de
Cultura Brasileira, o Bunkyo, que, na época, levou o nome
de Sociedade Paulista de Cultura Japonesa.
A paixão
pela comunidade japonesa e pelo Brasil era tanta que, em 1959,
naturalizou-se brasileiro, sendo batizado com o nome de Augusto
Kiyoshi Yamamoto.
Seus
trabalhos tiveram tanta representatividade para a comunidade nikkei
e para o País que acabaram recebendo inúmeros prêmios
e títulos, como o grau oficial da Ordem Nacional do Cruzeiro
do Sul, e da Ordem do Tesouro Sagrado, conferidas pelo governo
japonês.
Em
48, lançou seu primeiro livro de agropecuária, intitulado
Assim falou a vespa de Uganda, um guia sobre o combate biológico
à broca do café. Faleceu em 31de julho de 1963,
vítima de câncer.
Após
a sua morte, no final da década de 70, Kiyoshi foi homenageado
pelo então vereador Américo Sugai com o nome de
uma rua, localizada no Bairro do Butantã, graças
às suas obras em prol da sociedade. Foi uma grande
honra, comenta Carlos. Além do nome da rua, o Bunkyo
também o homenageia com o prêmio Kiyoshi Yamamoto,
concedido anualmente para os melhores agricultores e pecuaristas
do ano.
Praça
Guenitiro Nacazawa Vila Maria
HERANÇA - Luiza Aquico Nacazawa, cujo pai (detalhe) fundou
o Museu da Imigração Japonesa
Guenitiro
Nacazawa foi outro grande nome de destaque dentro da comunidade
nikkei. Nascido em 23 de maio de 1907, formou-se em Pedagogia
e Filosofia pela Universidade de Tóquio, em 1930. Três
anos depois, chegou a São Paulo, indo morar na Vila Juqueri.
Logo depois, mudou-se para Mairiporã, onde passou a cultivar
batata, tomate e trabalhar na criação de aves.
Em
1950, em Atibaia, desenvolveu uma série de experiências
pioneiras no campo do reflorestamento, além de na recuperação
agrícola da Amazônia. Nacazawa ainda foi fundador
da Cooperativa Central Agrícola Sul-Brasil. Ele era
muito religioso. Gostava que tudo tivesse justiça e respeito
aos outros, lembra sua única filha, Luiza Aquico
Nacazawa, 69.
Segundo
ela, o pai ainda gostava de realizar atividades beneficentes.
Não foi à toa que, em 1960, ele fundou a Beneficência
Nipo-Brasileira (ex-Associação de Assistência
aos Imigrantes Japoneses), onde foi diretor entre os anos de 61
a 75.
Além
disso, foi fundador do Museu de Imigração Japonesa,
no prédio do Bunkyo, e foi lá, também, que
atuou como diretor durante muitos anos. O Museu foi o trabalho
mais importante do meu pai e que lhe deu mais trabalho. Muitas
vezes, ele viajou para o Japão para buscar técnicos
para acompanhar todo o trabalho de construção do
Museu, conta.
Guenitiro
também foi homenageado com diversos títulos, como
a comenda do Cruzeiro do Sul, os títulos de Cidadão
Mairiporense, em 64, e o de Cidadão Paulistano, em 74,
Comenda de Mérito Cultural em 76, a moção
de Aplauso e Reconhecimento, em 69, e uma condecoração
concedida pelo governo japonês, uma das principais que já
recebeu em vida.
Em
85, um ano depois de seu falecimento, uma praça localizada
na Vila Maria, na zona norte de São Paulo, recebeu o nome
de Guenitiro, uma iniciativa do vereador Hatiro Shimomoto. Gostei
muito da homenagem, pois é uma coisa que vai ficar para
sempre, diz Luiza.
Travessa
Deputado Shiro Kyono Jardim Paulista
PASSADO - Shiro Kyono (dir.) sempre trabalhou em prol da comunidade
Shiro
Kyono chegou ao País no ano de 1925, aos 3 anos de idade.
Morou junto com a família numa fazenda de café na
cidade de Cravinhos, interior paulista. Logo, mudou-se para a
cidade de Guaimbê, na Fazenda Suiça. Posteriormente,
morou na cidade de Bastos, também no interior do Estado
de São Paulo, pela qual possuia grande adoração.
Formou-se pela escola técnica de química industrial
Bandeirantes, em 1949. Durante os anos de 1950 e 1959, foi procurador-geral
da Cooperativa Agrícola Granja Bastos.
Foi
a partir da década de 60 que passou a se dedicar à
vida política. Foi vereador da Câmara Municipal de
São Paulo pelo PDS, entre os anos de 1960 e 1963; deputado
estadual da Assembléia Legislativa do Estado de São
Paulo pelo PRP, nos anos de 1963 a 1975, e deputado estadual da
Arena.
Seus
trabalhos em prol da comunidade lhe renderam diversos títulos:
Medalha do Mérito Rural (1957), Medalha José Hypólito
da Costa (1960) e Medalha Marechal Rondon (1963).
Realizou
inúmeras campanhas assistenciais e filantrópicas
em prol da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de São
Paulo, da Assistência Social Dom José Gaspar, do
Hospital do Câncer, entre outros. Ele era um líder
na colônia, um cidadão autêntico, homem simples
e muito trabalhador, lembra o coronel do Exército,
Yoshio Kiyono, sobrinho de Shiro. Ele se dedicava muito
à comunidade nikkei e, em sua vida política, dedicou-se
bastante à agricultura e à educação,
tanto que queria que todo mundo estudasse, complementa.
A paixão
pela agricultura fez com que fundasse várias cooperativas
agrícolas em São Paulo e na Bahia. Fez várias
conferências no Japão sobre o tema entre os anos
de 1960 e 1977. Shiro Kyono faleceu no dia 30 de abril de 1984.
Veja
algumas outras ruas e praças de São Paulo
que levaram nomes de imigrantes japoneses
Avenida
Yokino Ogawa
Onde fica: Freguesia do Ó
Onde nasceu: Nigata, em 1914.
Quem foi: Diplomata japonesa e médica pediatra.
Praça
Hachiro Miyazaki
Onde fica: Jabaquara
Onde nasceu: Saga-Ken, em 1894
Quem foi: Um dos primeiros imigrantes japoneses
a se estabelecer no Brasil, em 1913. Atuou na Companhia de Terras,
Madeiras e Colonização de São Paulo-Birigüi.
Praça
Kenichi Nakagawa
Onde fica: Vila Mariana
Onde nasceu: Hyogo-Ken, em 1903.
Quem foi: Um dos fundadores da Cooperativa Agrícola
de Cotia.
Praça
Masaharu Taniguchi
Onde fica: Saúde
Onde nasceu: Kobe, em 1893
Quem foi: Fundador da filosofia Seicho-No-Iê
Praça
Soichiro Honda
Onde fica: Vila Mariana
Onde nasceu: Tóquio, 1906
Quem foi: Fundador da Honda Motor Company
Praça
Tamotsu Yamamura
Onde fica: Tucuruvi
Onde nasceu: Oita, em 1907
Quem foi: Professor primário, orientador
de jovens, vice-presidente da Associação dos Co-Provincianos
de Oita do Brasil, vice-presidente da Associação
Amigos de Piratininga.
Rua
Dr. Chibata Miyakoshi
Onde fica: Santo Amaro
Onde nasceu: Chiba, em 1892.
Quem foi: Fundador da Comissão Católica
Japonesa de São Paulo que, em 1953, foi legalmente registrada
como Assistência Social Dom José Gaspar e construiu
o Jardim Repouso São Francisco, em 1958.
Rua
Masatoshi Tominaga
Onde fica: Penha
Onde nasceu: Kumamoto-Ken, em 1912
Quem foi: Secretário-geral da Associação
Nipo-Brasileira de São Miguel e desenvolveu diversas atividades
filantrópicas.
Rua
Professor Koichi Kishimoto
Onde fica: Cursino
Onde nasceu: Nigata, em 1899
Quem foi: Agricultor, professor de língua
japonesa, fundador da Escola Liceu-Aurora.
Rua
Renato Katsuya Sato
Onde fica: São Miguel
Onde nasceu: Hokkaido, em 1916
Quem foi: Fundador da Associação Progresso
Parque Cruzeiro do Sul e colaborou para o levantamento da Igreja
São Benedito.
Rua
Rishin Matsuda
Onde fica: Jabaquara
Onde nasceu: Okinawa, em 1910
Quem foi: Presidente da Cooperativa Agrícola
Lito-Sul, uma das pioneiras da CEAGESP, diretor da Associação
Okinawa do Brasil e conselheiro do Banco América do Sul.
Rua
Tatsuo Okashi
Onde fica: Pirituba
Onde nasceu: Tóquio, em 1892
Quem foi: Membro da diretoria executiva para a instalação
do Hopital Santa Cruz, em 1936, e presidente da Associação
Paulista de Amparo às Crianças Retardadas.
Rua
Tsutomi Suzuki
Onde fica: Vila Sônia
Onde nasceu: Ehime, em 1903
Quem foi: Jornalista em diversos jornais da comunidade
Viaduto
Shuhei Uetsuka
Onde fica: Sé
Onde nasceu: Kumamoto-Ken, em 1875.
Quem foi: Intermediário entre fazendeiros,
colonos e imigrantes japoneses, em 1908.
|