Rituais de Ano Novo Japonês
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(Arquivo
Jornal NippoBrasil)
No
Brasil, as confraternizações de final de ano sempre
foram sinônimos de festa. O Natal, por exemplo - data oficial
do nascimento de Jesus Cristo, é a mais importante delas,
já que no País há milhões de cristãos.
Mas, ao contrário daqui, no Japão a data natalina
é quase uma novidade. A festividade foi adotada no início
do século passado e apenas as pessoas mais modernas - abertas
às novidades de outros países - é que comemoram
a ceia natalina em restaurantes badalados. E, apesar da pouca
comemoração à data, é possível
encontrar em algumas ruas de Tóquio, árvores de
Natal decoradas com bolinhas brancas porém, nem tão
enfeitadas como as do Brasil. Lá, a figura do bom velhinho
de barbas brancas também sofre algumas adaptações.
Santa Kurossu (Santa Claus, em inglês), como é conhecido
pelos japoneses, não usa roupas vermelhas nem botas pretas,
mas sim, quimono.
Porém,
a data mais festejada no arquipélago é mesmo o Ano
Novo - conhecido como Oshogatsu - que é comemorado entre
os dias 1º e 3 de janeiro. Lá, a data representa mais
do que uma confraternização, mas um período
considerado sagrado para que as pessoas possam se purificar e
fazer orações para o ano que se inicia.
Confira
os rituais seguidos pelos japoneses para comemorar esta data tão
especial.
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Oosouji
O Ano
Novo é para os japoneses um ponto de partida para uma nova
vida. Por isso, já no início do mês
de dezembro eles começam a se preparar para esta festividade
e realizam o oosouji (palavra japonesa que significa, literalmente,
limpeza) em cada casa, ou seja, uma limpeza doméstica
rigorosa para tirar todas as impurezas do local acumulados durante
o ano que se passou. Segundo a tradição, essa limpeza
pode ser feita somente até o dia 31 de dezembro, e jamais
deve ser realizada no dia 1º de janeiro. O oosouji é
feito também em empresas pelos próprios funcionários.
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Kadomatsu
Após
o oosouji, as pessoas começam a enfeitar suas casas com
decorações típicas do Ano Novo japonês.
A entrada
das casas é decorada, geralmente, com um par de pinheiros
denominados kadomatsu, que são colocados em ambos os lados
dessa entrada. Os pinheiros, por sua dureza, simbolizam uma vida
longa. Atrás deles são colocadas três hastes
de bambu, que representam constância e virtude.
No
alto do portão ou no telhado da casa é suspensa
a shimenawa, uma corda feita de palha e tiras de papel branco
(heisoku) que simbolizam um lugar sagrado.
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Tsuru
Além
do kadomatsu e da shimenawa, os japoneses utilizam também
para a decoração de suas casas nesta época
o tsuru (a tradicional cegonha de origami). Antigamente, costumava-se
pendurar estas aves de papel no teto, principalmente para distrair
as crianças e os bebês. Eram também oferecidas
nos templos e altares, junto com orações, para pedir
proteção.
Hoje,
as dobraduras estão presentes não só no Ano
Novo, mas também em casamentos, nascimentos e em comemorações
festivas em geral. Quando uma pessoa está hospitalizada,
por exemplo, é oferecido mil tsurus à ela para que
se reestabeleça. Todo o dia 6 de agosto são depositados
em mausoléus e monumentos da Paz inúmeros conjuntos
de mil tsurus (vindos de todas as partes do Japão e do
mundo) feitos em homenagem às pessoas que morreram vítimas
da bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki, com a intenção
de que isso jamais venha a se repetir.
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Hatsuyume
O
hatsuyume é o primeiro sonho do ano. Segundo os japoneses,
quem tem um sonho bom em um dos três primeiros dias do novo
ano, terá sorte durante todo aquele ano. Antigamente, para
tentar atrair boas imagens durante o sono, as pessoas colocavam
embaixo do travesseiro uma folha de papel em branco com o desenho
do takarabune (barco tesouro), que é um barquinho com sete
deuses (shichifukujin) que dão sorte.
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Hatsumode
Já
ao soar a meia-noite do dia 31 de dezembro, os sinos de todos
os templos budistas do país começam a tocar 108
vezes. Este ato representa as preces budistas para libertar o
homem dos seus 108 pecados e limpar sua mente e espírito
para saudar o ano que entra.
Este
costume é denominado hatsumode (primeiro culto do ano).
Após o culto, em frente aos templos, as pessoas fazem uma
enorme fogueira e, com uma vara de bambu, esquentam seus motis,
para comerem em suas próprias casas. Durante todo o primeiro
dia, os templos permanecem repletos, que vestem suas melhores
roupas. Já nos outros dias, a cerimônia é
comemorada junta dos familiares onde todos realizam alguma atividade
que gostam.
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Kakizome
O
kakizome (primeira caligrafia do Ano Novo) é feito, geralmente,
no segundo dia do ano. Neste dia, milhões de japoneses,
inclusive crianças, pegam um papel branco e escrevem, com
muito capricho, uma frase - que pode ser um desejo, um poema,
etc. No dia 15 de janeiro, acontece um outro ritual, chamado de
sagichô, onde é feita a queima das folhas de kakizome,
juntamente com outros objetos utilizados na decoração
do Ano Novo.
A
tradição diz que, quanto mais alto subirem os pedaços
de papel do kakizome durante a queima, mais talentosa será
a pessoa. Há ainda aqueles que acreditam que a exposição
a esta fogueira ajuda a rejuvenescer e a proteger contra doenças.
Esta
prática do kakizome se difundiu durante o período
feudal, graças à proliferação das
terakoyas (escolas particulares, geralmente localizadas em templos),
que ensinavam, além de várias disciplinas, a escrita
japonesa. Já no período Menji, o kakizome voltou
a ganhar forças devido ao crescente interesse pelo shodô,
a arte da caligrafia japonesa
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Hanetsuki,
Takoage e Koma
O Ano
Novo no Japão também é sinônimo de
diversão. Enquanto os meninos empinam pipas (takoage) ou
jogam pião (koma), as meninas, vestidas de quimono, jogam
peteca (hanetsuki) com raquetes de madeira. Quem deixa a peteca
cair, é punido com uma pincelada de nanquim no rosto.
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Hyakunin
Isshu
Já
os adultos costumam brincar com o Hyakunin Isshu, um jogo de cartas
típico de Ano Novo. As cartas têm impressas uma coleção
de 100 poemas clássicos (os waka). São, no total,
dois conjuntos de cartas: um com os poemas e outro com apenas
as últimas 14 sílabas dos mesmos poemas. No jogo,
a medida em que o jogador lê um poema do, os demais devem
escolher a carta que completa o poema.
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Moti
Os
japoneses seguem à risca as tradições de
Ano Novo inclusive na área gastronômica, sendo o
arroz a comida mais respeitada por eles. Durante a maior parte
da história do Japão, este alimento era tão
valioso que apenas a aristocracia, os comerciantes e os samurais
é que o consumiam regularmente. Para os japoneses, o arroz
representa mais do que um alimento; é uma fonte essencial
de energia vital que possui o poder de sustentar o renascimento
e, por isso é servido principalmente em casamentos e funerais.
Acredita-se que o onigiri (bolinho de arroz cozido) possui uma
poderosa força espiritual e simboliza a forma da alma.
Por este motivo, eles são colocados nos altares das casas
e em santuários como oferenda aos deuses. Até mesmo
a palha das espigas de arroz é tida como possuidora de
poderes espirituais. Inclusive, é com ela que se fazem
os shimekazaris; ornamentos que servem para demarcar os espaços
sagrados e são colocados nas entradas das casas e dos prédios
no Ano Novo, como um convite aos deuses para uma visita.
No
Japão, há, inclusive, um ritual que deve ser seguido
durante a comemoração chamado de motitsuki. Para
esta preparação, o arroz deve ficar de molho na
água durante uma noite e depois, cozido em banho-maria.
Ainda quente, ele é colocado num pilão (chamado
usu) e batido com um almofariz (kine). Depois de socado, o arroz
se transforma numa massa uniforme e é dividido em pequenos
bolinhos, formando assim os motis. Antigamente, os japoneses acreditavam
que o motitsuki era um pedido de boa colheita, fertilidade e longevidade
e, por isso, era feito sempre na vidada do novo ano. Hoje, eles
acreditam que o moti traz sorte e, por isso, no dia 31 para o
dia 1º, eles costumam espalhar motis em diversos pertences
da família - como carros e casa.
No
Ano Novo são feitas diversas receitas com o moti, todas
com o significado de trazer boa sorte. Uma delas - e a mais apreciada
- é o ozooni, uma sopa com moti que deve ser tomada no
dia 1º de janeiro. Segundo a crença, o ozooni faz
bem ao estômago, melhora o espírito da pessoa e,
por ser um alimento oferecido aos deuses, quem comê-lo será
protegido por eles pelo resto do ano.
Outro
prato muito consumido durante a comemoração do Ano
Novo é o kagami moti, um bolinho de arroz glutinoso que
desde a antigüidade é oferecido aos deuses. Na verdade,
são dois motis, um colocado em cima do outro, sendo o de
cima, um pouco menor. Segundo a tradição, eles são
chamados assim porque os motis são redondos como os antigos
espelhos (kagami). Eles representam o sol e a lua ou o homem e
a mulher, e são decorados com uma folhagem simbólica
e frutos do mar.
O kagami
moti é decorado com uma folhagem simbólica e frutos
do mar e são deixados no altar das casas como uma oferenda
aos deuses, já que simboliza a felicidade e a prosperidade
no ano que se inicia. No dia 11 de janeiro, estes bolinhos são
divididos em pequenos pedaços entre os membros da família
num ritual chamado kagami-biraki (literalmente chamado de abertura
do espelho), onde os motis são repartidos com a mão
ou com um martelo.
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Sobá
Além
do moti, os japoneses consomem também o sobá. Trata-se
de um macarrão de trigo que, literalmente, é chamado
de toshikoshi-sobá (macarrão da passagem de ano).
Antigamente, as pessoas acreditavam que este alimento atraía
muito dinheiro. Hoje, o sobá simboliza a longevidade, já
que pode ser comparado com a barba e os cabelos brancos dos deuses
de longa vida.
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Nengajou
No
Japão, a tradição é enviar cartões
para desejar boas entradas no Ano Novo. Estes cartões são
chamados de nengajou. No Japão, não se deve enviar
cartões após o dia 2 de janeiro, porque é
considerado uma falta de educação. Também
não se deve enviar à famílias que tenham
tido algum falecimento durante o ano.
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Otoshidama
O otoshidama
é um presente dado às crianças normalmente
pelos pais ou familiares no dia do Ano Novo. Trata-se de uma quantia
em dinheiro para que elas possam comprar algo que realmente desejam.
Essa quantia pode variar de mil a dez mil ienes.
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Oseibo
É
comum no Japão as pessoas presentearem outras como uma
forma de agrado, carinho ou retribuição. Por isso,
no Ano Novo, os empregados costumam presentear seus superiores
com alguma lembrancinha. Este ato é chamado lá de
oseibo.
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Arquivo
Edição 187 - 24
de dezembro de 2002 a 7 de janeiro de 2003 - Especial - Portal
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