CULTURA - Michiko Kishikawa dá aulas de kendô
há 23 anos ao lado do marido
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TRADIÇÃO - Yasue: 23 anos de naguinatá
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Jornal Nippo-Brasil
Quem
disse que mulher é sexo frágil? Nos últimos
tempos, esse conceito vem mudando. Depois de ganhar espaço
no mercado de trabalho e a tão sonhada independência,
agora chegou a vez de o sexo feminino conquistar uma outra área,
antes só atribuída aos homens: as artes marciais.
Sim, é isso mesmo.
As
mulheres estão dominando os tatames e agora dão
socos, chutes, pontapés e até chaves de braço
e colocam muitos marmanjos para correr. Nesta edição,
o Zashi traz a história de três mulheres que deixaram
o preconceito de lado e hoje são praticantes de lutas marciais
japonesas.
A
mestre do naguinatá
Faz
bem para a saúde, elimina o estresse e mantém o
espírito alegre. É assim que Yasue Morita,
53 anos, define o naguinatá, arte que leva o nome de uma
arma japonesa semelhante a uma foice e que, durante muito tempo,
foi utilizada por monges budistas e mulheres de famílias
samurais como uma forma de defesa.
Yasue
entrou para o esporte há 23 anos, logo após conhecer
a arte pela mãe de um amigo, que também praticava
o naguinatá. A paixão foi tanta que, três
anos depois, ela passou a dar aulas. O naguinatá
ensinou muitas coisas para mim, ele é minha vida,
conta.
O espírito
esportivo está no sangue. Casada há 23 anos, Yasue
é mãe de três filhos. Todos também
praticaram o naguinatá durante, pelo menos, dois anos.
O filho mais velho, hoje com 26 anos, mora no Japão, onde
é sumotori (praticante de sumô).
Yasue
já lutou na França, no Japão e nos Estados
Unidos e garante que, durante todo esse tempo, nunca sofreu qualquer
tipo de discriminação por ser mulher. Hoje,
a arte marcial está mais difundida.
Rainha
das espadas
Foi
com o propósito de unir a família que Michiko Ishikawa,
65, entrou para o kendô, um método simplificado do
kenjutsu. Juntos, ela, o marido e os dois filhos começaram
a praticar o esporte, há 35 anos. Minha família
toda está no Japão. Então, prometemos fazer
alguma coisa juntos até onde der, revela.
Ela
lembra que, na época, as pessoas não a viam com
bons olhos, já que era muito difícil ver uma
mulher de 30 anos, mãe de dois filhos, lutando. Os
homens achavam que podiam ganhar de mim, conta.
Hoje,
Michiko é a 6ª dan kyoshi, a graduação
máxima do kenjutsu e coloca muito marmanjo para correr
depois de pisar num tatame.
Há
23 anos, ela dá aulas com o marido e revela que a procura
pela luta tem aumentado muito nos últimos tempos. A
procura é maior por mulheres e brasileiros, diz.
Eles não vêm pelo esporte, mas porque querem
aprender a cultura e a língua japonesa.
Por
este motivo, durante as aulas, Michiko não ensina somente
a luta, mas também todas as tradições japonesas,
inclusive a língua. E ,para quem quiser se arriscar, ela
dá a dica: É preciso agradecer, respeitar
o adversário e ter paz na família. Nós ensinamos
que os alunos não podem pensar só no kendo. É
preciso também estudar e trabalhar.
Faixa
preta de karatê
Aos
78 anos de idade, Tereza Toshie Sezaki orgulha-se de ser faixa
preta de karatê. Ela entrou para o esporte há 18
anos, depois de ler uma matéria numa revista sobre a história
do mestre japonês Masutatsu Oyama, fundador de um dos estilos
mais renomados da luta, o kyokushin.
Não
deu outra. Logo depois, lá estava ela se matriculando numa
academia da cidade de Mogi das Cruzes, interior de São
Paulo, onde reside. Na época, eu tinha vergonha,
porque só tinha moça. Eu era a única de cabelo
branco, brinca.
Tereza
conta que foi incentivada pelo filho, que já praticava
o esporte, a iniciar-se na luta. Também foi com a ajuda
dele que ela escreveu uma carta para seu mestre. Meses depois,
durante uma etapa do campeonato mundial, Masutatsu Oyama veio
ao Brasil e, numa multidão de 13 mil pessoas, chamou o
nome de Tereza. Pensei que era mentira, mas fiquei muito
feliz por tê-lo conhecido.
Oito
anos depois, ela sofreu um acidente de carro. Das 10 pessoas envolvidas,
só ela e mais uma senhora sobreviveram. Tereza, no entanto,
ficou paraplégica. Passou três meses longe do esporte,
ouvindo dos médicos que estaria condenada à imobilidade
para sempre. Eu pensava: o médico está
errado. Eu mesma vou me curar, conta. E, com muito esforço
e espírito forte como ela mesma diz
, quatro anos depois lá estava ela, conquistando
o título de faixa preta do karatê.
Na
época em que sofreu o acidente de carro, Oyama veio a falecer.
Em 98, Tereza pôde realizar seu grande sonho: ganhou uma
passagem para o Japão em um dos campeonatos de karatê
que participou e foi beijar o túmulo de seu mestre e agradecer
pelo incentivo.
É
a ele e ao karatê que ela agradece o fato de não
ter tempo para fazer fofocas nem ficar doente. O karatê
faz bem para a mente, diz a senhora, que já quebrou
blocos de cimento, tábuas, tijolos e telhas.
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História
das lutas japonesas
Naguinatá
O naguinatá surgiu há milhares de anos no Japão.
Para se ter uma idéia, antes mesmo do século XII,
já se praticava a arte. O naguinatá era um instrumento
de defesa muito utilizado por monges budistas e mulheres de famílias
samurais. Ele foi introduzido no Brasil há pouco mais de
15 anos e, atualmente, o naguinatá-dô (arte do manejo
do naguinatá) é praticado principalmente pelas mulheres.
Kendô
O kendô originou-se entre os séculos VII e VIII.
Porém, foi somente no século XVI que começaram
a surgir estilos e escolas do esporte, recebendo, inclusive, influências
de ensinamentos budistas. No Japão, este esporte faz parte
do currículo escolar das crianças e é coordenado
pela Nippon Kendô Gata, entidade que unificou os 200 estilos
de luta.
Karatê
O karatê originou-se na China e, em japonês,
quer dizer mãos vazias. Diz a lenda que o karatê
era uma luta praticada secretamente por pessoas comuns que estavam
proibidas de portar armas e, por isso, defendiam-se de mãos
vazias, fazendo uso destas, cotovelo, joelho e pés. Hoje
considerado esporte internacional, está dividido em quatro
estilos, tendo algo em torno de 23 milhões de praticantes
no mundo todo. No Brasil, além dos estilos reconhecidos
pela Federação Shotokan, Wadoryu, Shorinryu,
Gojuryu e Itosuryu pratica-se o Kyokushin. As diferenças
são baseadas nos locais de origem.
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