Wadaiko: o estilo japonês de tocar taiko
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No teatro, na dança, nos festivais japoneses,
as batidas dos tambores estão presentes e contagiam o público
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(Arquivo
Jornal NippoBrasil)
Impossível
ficar imune às batidas vindas de um taiko. Durante uma
apresentação, o som que ecoa do tambor parece vibrar
o corpo do mero espectador. Assim como costuma definir Yukihisa
Oda, mestre japonês na arte de tocar wadaiko, o taiko é
a extensão do corpo daquele que o toca. Ele reflete
os seus sentimentos, portanto, se você estiver triste, o
som será triste, se estiver alegre, idem. O tambor do taiko
é um ser vivo e como tal deve ser tratado, explica
metaforicamente.
A palavra
taiko, cujo significado é tambor grande,
designa tanto o tipo de música quanto o instrumento utilizado
na arte do wadaiko. Por sua vez, esta última designação
wadaiko refere-se ao estilo de taiko do Japão.
Em
relação à introdução do taiko
no arquipélago japonês, registros históricos
indicam a sua utilização a partir do século
5. Um dos primeiros usos do taiko foi como instrumento de batalha,
sendo utilizado para intimidar e assustar o inimigo.
Porém,
incorporado às cerimônias religiosas, o taiko adquiriu
mais tarde uma conotação mística. Na
Era Jomon, era uma forma de comunicação com os deuses,
e batendo o taiko durante as cerimônias poderia se expressar
os sentimentos aos deuses, relata o sensei Oda, que está
no Brasil para difundir a arte (veja entrevista na página
ao lado).
Naquela
época, tocava-se o taiko para espantar os maus espíritos
e afastar as pestes das plantações. Outra função
era a de marcar as horas e sinalizar certas atividades de um vilarejo:
batidas simples significavam que homens estavam saindo à
caça ou uma tempestade estaria por vir.
Hoje
o taiko está presente no teatro, na dança e na maioria
das festividades japonesas (matsuri, festivais shintoístas),
simbolizando a evocação dos deuses para trazer boa
sorte e felicidade a todos.
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Estilos
A
cultura e o folclore local influenciam o estilo de taiko tocado
em cada região do Japão. Na região
norte, o ritmo da batida é longo e repetido, já
na região sul é extremamente rápido e variado,
diferencia Oda.
Mas
o estilo que tornaria o taiko conhecido no mundo inteiro é
chamado de Kumidaiko. Este estilo é atual, teve início
na década de 50, quando o senhor Oguchi Daihachi, na época
baterista de jazz, encontrou algumas partituras de taiko e, posicionando-os
como uma bateria, tocou em conjunto com alguns amigos, explica
Setsuo Kinoshita, professor de taiko no Brasil, que atualmente
se encontra no Japão divulgando o taiko brasileiro.
Feito
de madeira maciça e couro, o taiko geralmente é
confeccionado à mão por artesãos japoneses.
Existe a crença de que os espíritos das árvores
utilizadas na confecção do instrumento, das pessoas
que o fizerem e daqueles que o tocaram por vários anos
se incorporam à peça.
O instrumento
pode ser encontrado em variados formatos e tamanhos. O chodô
taiko, que é o maior, pode chegar a 1,50 metro de diâmetro.
Como no Brasil não há artesãos que confeccionem
o instrumento, quem quiser comprar um precisa importá-lo.
Um taiko tamanho médio sai pela bagatela de US$ 7 mil.
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Aprendendo
a tocar
Ouvido
bom, ritmo e um pouco de força são alguns dos requisitos
necessários ao tocador de taiko. Se bem que é
mais jeito do que força. Acredito que numa apresentação
de 30 minutos o tocador chega a perder uns dois quilos. Mas tem
muitas mulheres tocando. Cerca de 60% dos meus alunos são
do sexo feminino, diz o professor Joseph Yamazaki, que começou
a tocar o instrumento aos 11 anos de idade e hoje, aos 35, integra
o Tangue Setsuko Taiko Dojo, tradicional grupo de São Paulo.
A posição
certa para se tocar o taiko difere de acordo com o sexo. Para
os homens, as pernas devem ser afastadas e a perna direita é
colocada cerca 10 centímetros para trás. Já
as mulheres devem afastar a perna direita para trás, enquanto
a perna esquerda tem o joelho levemente flexionado para frente.
Segundo
Yamazaki, para aprender o taiko, um aluno leva em média
cerca de dois anos. A idade recomendada para se iniciar na arte
é 10 anos. Porém, nada impede que adultos e pessoas
da terceira idade experimentem o ritmo dos tambores.
A fisioterapeuta
Marcia Matsuo, 55 anos, por exemplo, estava animada para ter a
primeira aula com o sensei Oda, que esteve na União Cultural
Esportiva Guarulhos (Uceg) no dia 18 de julho. Adoro a batida.
Quando tem Bom Odori sempre vejo o pessoal tocando e pensava:
tenho que aprender isso. Surgiu a oportunidade de ter aulas com
o sensei e aqui estou. Nunca é tarde, acredita.
A fascinação
pegou em cheio também seu filho, Carlos Arakaki, 37 anos.
O taiko toca muito profundamente, é algo que não
dá para explicar com palavras, só mesmo sentindo,
conclui.
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Entrevista
Yukihisa Oda
Oda: A mistura dos ritmos do taiko e do samba poderão
trazer um novo ritmo
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Nascido
na cidade de Chikuho, província de Fukuoka, Oda é
presidente da Confederação de Taiko, diretor da
Escola de Taiko Maihime de Hakata e presidente da Kawasudi Taiko
no Japão. Faz apresentações de wadaiko com
o grupo Hakosa, excursionando pelo mundo inteiro. A seguir, veja
entrevista dada pelo sensei em um dos intervalos de sua aula.
Como
surgiu o interesse em tocar taiko?
Quando era criança tocava taiko em matsuri, mas profissionalmente
comecei minha carreira aos 30 anos. Meu professor foi Nakagaki
Okuso, segui os seus passos até aprender e encontrar o
meu próprio estilo. Com o tempo fui agregando aos meus
conhecimentos experiências de outros grupos de várias
regiões do Japão. Assim, ao criar um estilo próprio
de expressão, encontrei a minha maneira de expressar meus
sentimentos e idéias. Para ser um mestre de taiko precisamos
aprender a seguir nossos próprios passos.
Como
definir o taiko?
O tambor do taiko é um ser vivo e como tal deve ser
bem tratado. Para sua conservação deve ser guardado
em local fresco e arejado, onde ele possa respirar. O taiko em
sua concepção pode ser dividido da seguinte forma:
a sua base são os seus pés, o tambor é seu
corpo e a capa de couro que o protege é um espelho em que
se reflete a alma da pessoa que está tocando. Para se construir
ou preparar um tambor novo é necessário ter um tronco
inteiro, que será escavado na parte de dentro, isso definirá
o som do taiko. O couro que o recobre deverá ser de uma
vaca que já tenha dado cria por três vezes e ela
não pode ser sacrificada apenas para utilização
do couro, mas aproveitada para alimentação.
Como
tem sido a difusão do taiko no Japão?
A Confederação de Taiko serve para incentivar
os jovens a preservarem a cultura do taiko e mantém contato
entre os vários grupos de todo o arquipélago japonês.
No Japão, o Ministério da Educação,
como forma de preservação da cultura, instituiu
o taiko como disciplina da grade curricular na escola primária.
Não é possível mensurar o número de
praticantes no país, pois podemos praticamente dizer que
todos ou tocam ou conhecem o taiko.
O
que precisa ter um bom tocador de taiko?
Em primeiro lugar, você deve gostar e deverá
ser atraído pelo taiko. Aos poucos você se sentirá
absorvido pelo instrumento e poderá expressar tudo o que
sente através de sua batida.
Já
esteve no Brasil fazendo apresentações?
É minha primeira vez. Antes de vir para cá
tinha ouvido muitas histórias sobre a violência,
mas ao chegar aqui percebi que as pessoas são muito calorosas
e me surpreendi com a grandiosidade do País. Com relação
ao taiko no Brasil, o que eu teria a dizer é que o taiko,
assim como a música, é uma linguagem universal:
basta ouvir e sentir com o coração o sentido de
suas batidas. Ao dar aulas aos alunos aqui, o que pude perceber
é que o Brasil tem um ritmo próprio do samba. A
mistura dos ritmos do taiko e do samba brasileiro provavelmente
poderá trazer um novo ritmo.
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Arquivo
Edição 169 - 21
a 27 de agosto de 2002 - Especial - Portal NippoBrasil
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