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Arquivo Edição 267 - 21 a 27 de julho de 2004 - Especial - Portal NippoBrasil
 

Cassio Taniguchi: “ser nikkei dá uma credibilidade social muito grande na política”


PASSADO - Taniguchi foi eleito pela primeira vez em 96 e reeleito em 2000: ele é o primeiro nikkei a assumir a prefeitura de uma capital

Arquivo Jornal Nippo-Brasil

Cassio Taniguchi nasceu no Hospital Santa Cruz, em São Paulo, em 15 de outubro de 1941, mas foi registrado em Paraguaçu Paulista, no sudoeste do Estado, 15 dias depois. Seus pais, Masaji e Massako Taniguchi imigraram da cidade de Fukui (situada na ilha de Hokkaido, no Mar do Japão), nos anos 30, para tentar a vida no Brasil.

Como todo filho de imigrantes, Cassio aprendeu a falar, escrever e fazer contas em japonês antes de freqüentar a escola pública. Seu pai, formado em Filosofia no Japão, dava aulas de japonês. Sem trabalho durante a Segunda Guerra, com a proibição de usar o idioma dos países do Eixo, tornou-se bancário na Bratac (Burajuri Takushoku Kumiai, cooperativa agrícola que apoiou a imigração japonesa). A família mudou-se para Presidente Prudente e depois para São Paulo.

Na capital, moraram na Aclimação e no Jardim da Saúde, onde Cássio começou o ensino básico. Bom aluno, passou no exame de admissão para o ginásio no Colégio Estadual de São Paulo, onde também fez o antigo curso Científico. Passou no vestibular para Engenharia Eletrônica, no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos. Participava das atividades do centro acadêmico, fazendo programas para a comunidade, em projetos experimentais de rádio e TV.

A aproximação com a realidade social das comunidades carentes o fez candidatar-se à presidência do centro acadêmico, em seus últimos anos de graduação. O Golpe Militar de 1964 foi, segundo ele, uma experiência traumática. “Muitos de meus colegas foram presos, impedidos de concluir seus cursos, por exercerem atividades políticas’’, lembra.

Já diplomado, Cassio pensou em integrar-se às fileiras de técnicos do projeto de combate à seca e à fome da extinta Superintendência Nacional do Nordeste (Sudene), idealizado pelo sociólogo Celso Furtado. Com o Golpe Militar e a cassação do sociólogo, decidiu ir para o Paraná, que, em 1965, experimentava grandes transformações tecnológicas com o governo Ney Braga.

Cassio começou a carreira profissional na Companhia de Desenvolvimento Regional (Codepar), onde conheceu a socióloga Marina Klamas, com quem veio a se casar, em 1966, tendo dois filhos: Kerstin, (médica pediatra) e Gustavo (engenheiro civil).

Logo que se fixou em Curitiba, conheceu o arquiteto Jaime Lerner, com o qual desenvolveu sólida amizade, mais tarde transformada em sociedade comercial. Ao assumir a prefeitura de Curitiba, em 1972, Lerner o convidou para ser presidente da Companhia de Urbanização de Curitiba (Urbs), função que exerceu até 1975, tendo como projetos marcantes a reforma da Rodoferroviária e a implantação da Cidade Industrial de Curitiba.

Entre 75 e 80, Taniguchi atuou em projetos de urbanização em São Paulo, Guarujá, Niterói, Dourados e de transporte em Aracaju, Recife, Goiânia, Campo Grande, João Pessoa e Salvador. Com a reeleição de Lerner, retornou à vida pública como presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (IPPUC), de 1980 a 1983, quando ajudou a construir a fama de Curitiba como capital ecológica.

Na segunda gestão no IPPUC, de 1989 a 1994, Cassio implantou o ligeirinho, a Rua 24 Horas e o Jardim Botânico. Depois, foi secretário de Planejamento do governo Lerner, quando viabilizou a vinda de fábrica Renault para a região metropolitana de Curitiba e idealizou o projeto Paranasan, com financiamento do Japan Bank.

Tendo sido pré-candidato em 1992 pelo PDT, partido do qual foi presidente, em 1996, foi lançado candidato à Prefeitura de Curitiba, elegendo-se o primeiro prefeito nikkei de grande capital brasileira. “Foi uma das campanhas mais bonitas que já fiz, ganhando no primeiro turno”, lembra. As marcas de sua gestão foram os projetos sociais, como o Linhão do Emprego, uma avenida que liga vários bairros da cidade onde foram instalados barracões para abrigar microempresas.

A reeleição, em 2000, viria a trazer um segundo mandato tumultuado. Em 2001, Cassio foi acusado de manter um Caixa 2 na campanha, com denúncias de omissão de gastos de R$ 632 mil em propaganda. Às vésperas do início da campanha de 2004, o processo movido pelo Ministério Público do Paraná foi arquivado, injetando mais gás no futuro político do prefeito.

Nessa entrevista ao NB, Cássio Taniguchi fala do que é ser nikkei, sua carreira política e os planos para o futuro. Ele adianta, por exemplo, que pensa, sim, em sair candidato ao governo do Paraná.

Entrevista

Como foi assumir a Prefeitura de Curitiba, sendo o primeiro prefeito nikkei de uma grande capital brasileira?

Ganhar como representante da comunidade nikkei numa grande capital foi motivo de muito orgulho. Lembro que, quando fazia campanha para comunidade, sabendo que prezava valores como a honestidade, o trabalho, a disciplina, decidi que não faria nenhum ato que os envergonhasse. Procurei promover projetos sociais sem ares paternalistas. Quando a Marina assumiu a presidência da FAS – Fundação de Assistência Social, a população estava acostumada a pedir cestas básicas, empregos. A partir de sua gestão, passou a ser uma entidade que analisava as situações e dava soluções de promoção social, além de inserir os carentes em programas para potencializar talentos e aptidões práticas nos Liceus de Ofício, muitos deles apoiados com doações do Consulado do Japão. Estas estratégias foram bem recebidas, pois, segundo uma pesquisa do Datafolha publicada em 2000, eu tinha dois terços de ótimo e bom, era um dos prefeitos de capitais mais bem pontuados.

Como o senhor vê o encerramento do processo do Caixa 2 pelo Tribunal Superior Eleitoral? Como esse episódio marcou toda a gestão de seu segundo mandato?

Quando fui reeleito e eclodiu o episódio do “Caixa 2”, sofri muito com o massacre da imprensa. Tive a felicidade de ser absolvido pelo TSE, que não encontrou nenhuma prova para me acusar. A denúncia foi feita com propósitos exclusivamente políticos, lamentavelmente avalizados pela grande imprensa. Os projetos de minha gestão, como o Digitando o Futuro, que permitiu a inclusão digital de 936 escolas públicas e 50 pontos de acesso gratuito da internet, ficaram ofuscados pelo escândalo. Neste período, Curitiba teve uma série de conquistas nacionais e internacionais, como a queda da mortalidade infantil, redução de HIV em mães portadoras, a escolha pela Revista Exame como pólo de atração em investimentos em informática e instalou-se como sede de treinamento para autoridades locais para América Latina e Caribe, com chancela de agências da ONU.

Uma das últimas pesquisas de opinião sobre as eleições municipais indicou que o senhor tem 52% de rejeição pela população. Credita o desgaste de sua imagem pública aos vários processos judiciais em que foi indiciado?

Por um lado, tenho esta rejeição e, por outro, 11% de apoio de eleitores que votariam num candidato meu. O desgaste deve-se ao escândalo das denúncias vazias e também ao resíduo da eleição de 2000, quando fui para o segundo turno. Embora tenha esta rejeição, é pouco comparado ao governo Lula, com um ano e meio de mandato.Vamos tentar virar o jogo, mostrando as realizações de meu governo. Por exemplo, o IBGE fez uma pesquisa que indicava, em 1991, famílias com renda de 0 a 3 salários mínimos na região sul de Curitiba. Em 2001/2002, a faixa de renda aumentou para 3 a 5 salários, graças à criação de 30 mil empregos e investimentos de R$ 16,5 per capita.

O anúncio de seu apoio ao candidato de seu partido (PFL), Osmar Bertoldi, causou um racha entre seus aliados na disputa das eleições municipais deste ano. O vice-prefeito Beto Richa, também candidato, é apoiado por Lerner e pelo senador Álvaro Dias, seus antigos aliados. O senhor não teme ficar isolado com a posição que tomou?

Na verdade, já existia um racha. Eu tinha que tomar uma decisão, não podia apoiar dois candidatos. Não estou me isolando, estou me fortalecendo. Estou muito feliz sozinho, formando outro grupo, com gente jovem.

Políticos nikkeis como Antonio Ueno, Rui Hara, Hidekazu Takayama, para citar nomes paranaenses, imprimem um estilo diferente na política brasileira. Que candidatos nikkeis o senhor vai apoiar nas eleições municipais?

Acho que cada um teve uma fase. O Antonio Ueno foi um grande estimulador de projetos para a comunidade nikkei, formando associações no interior. Rui Hara, que estou apoiando nas eleições de 2004 (embora seja do PSDB), é uma liderança que está despontando. Takayama, mesmo sem grande penetração na comunidade, é nosso único representante no Congresso Nacional. Vale observar que diminuímos a representação no congresso, porque a comunidade está desinteressada, desunida, ou fora do País. Temos que voltar a estimular a comunidade a ter mais representantes.

Quais são seus planos para o futuro político? O senhor vai se candidatar ao governo do Estado em 2006?

Essa é uma promessa que fiz para a comunidade nikkei, não é uma hipótese descartada. É importante não esquecer da origem e das tradições. O fato de ser descendente de japoneses dá uma credibilidade muito grande, conquistada por nossos pais e avós, que trabalharam ativamente pelo desenvolvimento do Brasil. O bom conceito que a sociedade brasileira tem dos japoneses é umpatrimônio que temos e que devemos consolidar a cada dia. Por isso, sugiro à nova geração de nipo-brasileiros que conquiste espaços trabalhando pelo bem comum, agindo no momento certo, sem perder oportunidades.

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