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Jornal Nippo-Brasil
Cassio
Taniguchi nasceu no Hospital Santa Cruz, em São Paulo,
em 15 de outubro de 1941, mas foi registrado em Paraguaçu
Paulista, no sudoeste do Estado, 15 dias depois. Seus pais, Masaji
e Massako Taniguchi imigraram da cidade de Fukui (situada na ilha
de Hokkaido, no Mar do Japão), nos anos 30, para tentar
a vida no Brasil.
Como
todo filho de imigrantes, Cassio aprendeu a falar, escrever e
fazer contas em japonês antes de freqüentar a escola
pública. Seu pai, formado em Filosofia no Japão,
dava aulas de japonês. Sem trabalho durante a Segunda Guerra,
com a proibição de usar o idioma dos países
do Eixo, tornou-se bancário na Bratac (Burajuri Takushoku
Kumiai, cooperativa agrícola que apoiou a imigração
japonesa). A família mudou-se para Presidente Prudente
e depois para São Paulo.
Na
capital, moraram na Aclimação e no Jardim da Saúde,
onde Cássio começou o ensino básico. Bom
aluno, passou no exame de admissão para o ginásio
no Colégio Estadual de São Paulo, onde também
fez o antigo curso Científico. Passou no vestibular para
Engenharia Eletrônica, no Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos.
Participava das atividades do centro acadêmico, fazendo
programas para a comunidade, em projetos experimentais de rádio
e TV.
A aproximação
com a realidade social das comunidades carentes o fez candidatar-se
à presidência do centro acadêmico, em seus
últimos anos de graduação. O Golpe Militar
de 1964 foi, segundo ele, uma experiência traumática.
Muitos de meus colegas foram presos, impedidos de concluir
seus cursos, por exercerem atividades políticas,
lembra.
Já
diplomado, Cassio pensou em integrar-se às fileiras de
técnicos do projeto de combate à seca e à
fome da extinta Superintendência Nacional do Nordeste (Sudene),
idealizado pelo sociólogo Celso Furtado. Com o Golpe Militar
e a cassação do sociólogo, decidiu ir para
o Paraná, que, em 1965, experimentava grandes transformações
tecnológicas com o governo Ney Braga.
Cassio
começou a carreira profissional na Companhia de Desenvolvimento
Regional (Codepar), onde conheceu a socióloga Marina Klamas,
com quem veio a se casar, em 1966, tendo dois filhos: Kerstin,
(médica pediatra) e Gustavo (engenheiro civil).
Logo
que se fixou em Curitiba, conheceu o arquiteto Jaime Lerner, com
o qual desenvolveu sólida amizade, mais tarde transformada
em sociedade comercial. Ao assumir a prefeitura de Curitiba, em
1972, Lerner o convidou para ser presidente da Companhia de Urbanização
de Curitiba (Urbs), função que exerceu até
1975, tendo como projetos marcantes a reforma da Rodoferroviária
e a implantação da Cidade Industrial de Curitiba.
Entre
75 e 80, Taniguchi atuou em projetos de urbanização
em São Paulo, Guarujá, Niterói, Dourados
e de transporte em Aracaju, Recife, Goiânia, Campo Grande,
João Pessoa e Salvador. Com a reeleição de
Lerner, retornou à vida pública como presidente
do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (IPPUC), de
1980 a 1983, quando ajudou a construir a fama de Curitiba como
capital ecológica.
Na
segunda gestão no IPPUC, de 1989 a 1994, Cassio implantou
o ligeirinho, a Rua 24 Horas e o Jardim Botânico. Depois,
foi secretário de Planejamento do governo Lerner, quando
viabilizou a vinda de fábrica Renault para a região
metropolitana de Curitiba e idealizou o projeto Paranasan, com
financiamento do Japan Bank.
Tendo
sido pré-candidato em 1992 pelo PDT, partido do qual foi
presidente, em 1996, foi lançado candidato à Prefeitura
de Curitiba, elegendo-se o primeiro prefeito nikkei de grande
capital brasileira. Foi uma das campanhas mais bonitas que
já fiz, ganhando no primeiro turno, lembra. As marcas
de sua gestão foram os projetos sociais, como o Linhão
do Emprego, uma avenida que liga vários bairros da cidade
onde foram instalados barracões para abrigar microempresas.
A reeleição,
em 2000, viria a trazer um segundo mandato tumultuado. Em 2001,
Cassio foi acusado de manter um Caixa 2 na campanha, com denúncias
de omissão de gastos de R$ 632 mil em propaganda. Às
vésperas do início da campanha de 2004, o processo
movido pelo Ministério Público do Paraná
foi arquivado, injetando mais gás no futuro político
do prefeito.
Nessa
entrevista ao NB, Cássio Taniguchi fala do que é
ser nikkei, sua carreira política e os planos para o futuro.
Ele adianta, por exemplo, que pensa, sim, em sair candidato ao
governo do Paraná.
Entrevista
Como
foi assumir a Prefeitura de Curitiba, sendo o primeiro prefeito
nikkei de uma grande capital brasileira?
Ganhar
como representante da comunidade nikkei numa grande capital foi
motivo de muito orgulho. Lembro que, quando fazia campanha para
comunidade, sabendo que prezava valores como a honestidade, o
trabalho, a disciplina, decidi que não faria nenhum ato
que os envergonhasse. Procurei promover projetos sociais sem ares
paternalistas. Quando a Marina assumiu a presidência da
FAS Fundação de Assistência Social,
a população estava acostumada a pedir cestas básicas,
empregos. A partir de sua gestão, passou a ser uma entidade
que analisava as situações e dava soluções
de promoção social, além de inserir os carentes
em programas para potencializar talentos e aptidões práticas
nos Liceus de Ofício, muitos deles apoiados com doações
do Consulado do Japão. Estas estratégias foram bem
recebidas, pois, segundo uma pesquisa do Datafolha publicada em
2000, eu tinha dois terços de ótimo e bom, era um
dos prefeitos de capitais mais bem pontuados.
Como
o senhor vê o encerramento do processo do Caixa 2 pelo Tribunal
Superior Eleitoral? Como esse episódio marcou toda a gestão
de seu segundo mandato?
Quando
fui reeleito e eclodiu o episódio do Caixa 2,
sofri muito com o massacre da imprensa. Tive a felicidade de ser
absolvido pelo TSE, que não encontrou nenhuma prova para
me acusar. A denúncia foi feita com propósitos exclusivamente
políticos, lamentavelmente avalizados pela grande imprensa.
Os projetos de minha gestão, como o Digitando o Futuro,
que permitiu a inclusão digital de 936 escolas públicas
e 50 pontos de acesso gratuito da internet, ficaram ofuscados
pelo escândalo. Neste período, Curitiba teve uma
série de conquistas nacionais e internacionais, como a
queda da mortalidade infantil, redução de HIV em
mães portadoras, a escolha pela Revista Exame como pólo
de atração em investimentos em informática
e instalou-se como sede de treinamento para autoridades locais
para América Latina e Caribe, com chancela de agências
da ONU.
Uma
das últimas pesquisas de opinião sobre as eleições
municipais indicou que o senhor tem 52% de rejeição
pela população. Credita o desgaste de sua imagem
pública aos vários processos judiciais em que foi
indiciado?
Por
um lado, tenho esta rejeição e, por outro, 11% de
apoio de eleitores que votariam num candidato meu. O desgaste
deve-se ao escândalo das denúncias vazias e também
ao resíduo da eleição de 2000, quando fui
para o segundo turno. Embora tenha esta rejeição,
é pouco comparado ao governo Lula, com um ano e meio de
mandato.Vamos tentar virar o jogo, mostrando as realizações
de meu governo. Por exemplo, o IBGE fez uma pesquisa que indicava,
em 1991, famílias com renda de 0 a 3 salários mínimos
na região sul de Curitiba. Em 2001/2002, a faixa de renda
aumentou para 3 a 5 salários, graças à criação
de 30 mil empregos e investimentos de R$ 16,5 per capita.
O
anúncio de seu apoio ao candidato de seu partido (PFL),
Osmar Bertoldi, causou um racha entre seus aliados na disputa
das eleições municipais deste ano. O vice-prefeito
Beto Richa, também candidato, é apoiado por Lerner
e pelo senador Álvaro Dias, seus antigos aliados. O senhor
não teme ficar isolado com a posição que
tomou?
Na
verdade, já existia um racha. Eu tinha que tomar uma decisão,
não podia apoiar dois candidatos. Não estou me isolando,
estou me fortalecendo. Estou muito feliz sozinho, formando outro
grupo, com gente jovem.
Políticos
nikkeis como Antonio Ueno, Rui Hara, Hidekazu Takayama, para citar
nomes paranaenses, imprimem um estilo diferente na política
brasileira. Que candidatos nikkeis o senhor vai apoiar nas eleições
municipais?
Acho
que cada um teve uma fase. O Antonio Ueno foi um grande estimulador
de projetos para a comunidade nikkei, formando associações
no interior. Rui Hara, que estou apoiando nas eleições
de 2004 (embora seja do PSDB), é uma liderança que
está despontando. Takayama, mesmo sem grande penetração
na comunidade, é nosso único representante no Congresso
Nacional. Vale observar que diminuímos a representação
no congresso, porque a comunidade está desinteressada,
desunida, ou fora do País. Temos que voltar a estimular
a comunidade a ter mais representantes.
Quais
são seus planos para o futuro político? O senhor
vai se candidatar ao governo do Estado em 2006?
Essa
é uma promessa que fiz para a comunidade nikkei, não
é uma hipótese descartada. É importante não
esquecer da origem e das tradições. O fato de ser
descendente de japoneses dá uma credibilidade muito grande,
conquistada por nossos pais e avós, que trabalharam ativamente
pelo desenvolvimento do Brasil. O bom conceito que a sociedade
brasileira tem dos japoneses é umpatrimônio que temos
e que devemos consolidar a cada dia. Por isso, sugiro à
nova geração de nipo-brasileiros que conquiste espaços
trabalhando pelo bem comum, agindo no momento certo, sem perder
oportunidades.
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