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Jornal Nippo-Brasil
A
palavra ikebana deriva de ike e hana, pronunciada bana. Ike vem
de três verbos: ikeru, colocar ou arrumar flores; ikiru,
viver, tornar vivo ou chegar à essência de algo;
e ikassu, colocar sob a melhor luz, ajudar a encontrar a verdadeira
essência, ou ainda, tornar a vida mais pura. Hana, por sua
vez, significa flor. Os profundos significados combinam perfeitamente
com essa arte tão sensível e criativa.
O Ikebana
é um dos legados deixados pelos imigrantes, chegando ao
nosso País junto com um grande número de japoneses.
No Japão, o Ikebana chegou junto com o budismo,
conta a mestra de Ikebana Ikenobo, Satiko Suzuke. A princípio,
a prática da arte floral veio da China, onde um diplomata
japonês tinha o costume de observar monges budistas enfeitando
seus templos com arranjos de flores, trabalhando na elaboração
dos arranjos como oferendas. Quando voltou ao Japão, o
diplomata resolveu abandonar a carreira e a vida palaciana para
ser um monge. Passou a morar na beira do lago e começou
a criar seus arranjos florais, dando início a uma arte
que viria a adquirir suas próprias regras e conceitos.
Daí vem o nome da primeira escola de Ikebana: a Ikenobo,
que significa monge do lago.
O rikka,
um dos primeiros estilos do Ikenobo, originou-se do tatehama,
o ato de colocar flores nos altares dos deuses. Rikka é
a paisagem do universo, diz Satiko. É um estilo
elaborado, em seus arranjos, podem ser encontrados até
oito elementos, entre galhos e flores, explica. Do rikka,
vieram as bases para os estilos shoka, com seus arranjos quase
sempre em forma de meia-lua; moribana, baseado na estética
natural, com ênfase descritiva; nagueire, com seus arranjos
mais naturalistas e em vasos altos; e jiyuka, os arranjos de estilo
livre.
Justificando
seu início e prática entre monges, durante séculos,
o Ikebana foi um privilégio masculino. Além
disso, era uma arte que exigia grande esforço físico,
já que os religiosos elaboravam arranjos monumentais, utilizando
até mesmo troncos de árvores, conta a mestra
de Ikebana Ikenobo, Emília Tanaka. Muito tempo depois,
e já com normas definidas, essa arte floral alcançou
palácios e popularizou-se entre nobres e samurais, os lendários
guerreiros que, entre uma batalha e outra, relaxavam montando
delicados arranjos de flores. As mulheres só tiveram acesso
à prática do Ikebana no século XIX.
Do
Ikenobo, berço de todos os preceitos do Ikebana, derivaram
várias outras escolas, seguindo linhas diferentes e com
seus próprios estilos. Estima-se que, no Japão,
existam mais de 3 mil estilos de Ikebana. Hoje, em São
Paulo, existem várias escolas praticantes de Ikebana, além
da Ikenobo (veja box serviço). São
escolas que divulgam a arte do Ikebana de acordo com suas particularidades,
e todas elas são afiliadas à Associação
de Ikebana do Brasil, explica Emília Tanaka.
Todos
os anos, o Gaimusho, o Ministério das Relações
Exteriores do Japão, prestigia o Ikebana produzindo um
calendário que é distribuído em várias
partes do mundo. Para tanto, são convidadas quatro escolas
de Ikebana para a produção dos arranjos: a Ikenobo,
a Soguetsu-Ryu, a Ohara-Ryu, e a Koryu Shotokai. Conheça
um pouco sobre estas outras três escolas lendo os boxes
a seguir.
Sogetsu-Ryu:
rompimento com os antigos padrões
CONTEMPORANEIDADE - Sogetsu
acompanha a evolução da arte
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Um
punhado de flores e algumas ramas sabiamente colocadas se transformam
em algo muito diferente desses elementos. Trata-se de algo novo,
produto de combinações imaginação
e espírito criador. E, desta forma, Ikebana expressa tanto
a intimidade das flores como a personalidade de seu autor,
assim dizia Sofu Teshigahara (1900-1979), fundador da escola Sogetsu-Ryu.
Fundada no Japão em 1927, essa escola representa a contemporaneidade
no Ikebana. Baseada na tradição japonesa, mas também
atendendo a mudanças necessárias numa nova perspectiva
da evolução da arte como um todo, a Sogetsu proporciona
uma arte de arranjos florais ilimitados, sem se prender a conceitos
antigos.
Na
Sogetsu, o Ikebana é a expressão de seu autor. Em
seus estilos, os galhos são mudados de posição
de acordo com os princípios desenvolvidos pela escola,
com o objetivo de alcançar novas formas e modelos de Ikebana.
Existe uma visão aqui no ocidente de que tudo o que
vem do oriente seja impregnado de simbologia, explica a
presidente da Associação Sogetsu-Ryu, Hilda Kuniy
Tagusagawa. Nos estilos da Sogetsu, nem sempre a simbologia
será mais importante do que o resultado visual produzido
pelos arranjos.
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