Jorge Kishikawa que fundou uma escola de samurais no País
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O
Último Samurai, que estréia nos cinemas no
dia 16, traz Tom Cruise no papel de um mercenário a serviço
do exército imperial japonês que enfrentava samurais
contrários a abertura do Japão. Na história,
ele é aprisionado e descobre no universo dos samurais uma
grandeza que não existe mais no mundo de onde veio. Muda
de lado e se transforma, ele próprio, num samurai.
Os
valores e o estilo de vida que encantam o personagem de Cruise
no filme continuam fazendo adeptos até hoje. O que mais
atrai, principalmente os ocidentais, é o Bushido - o caminho
do guerreiro, que é o código de ética dos
samurais. No Bushido, o samurai se propunha a servir seu senhor
com o máximo empenho, lealdade, bravura e, se preciso fosse,
segui-lo até a morte.
De
acordo com o Instituto Niten, que ensina e divulga o estilo de
vida dos samurais no Brasil, as virtudes pregadas no Bushido são
justiça (gi), coragem (yuu), benevolência (jin),
educação (rei), sinceridade (makoto), honra (meiyo)
e lealdade (chuugi). Esses valores tiveram origem em três
correntes principais, o budismo, o xintoísmo e o confuncionismo.
Do
budismo, o Bushido herdou o desapego pela vida e a coragem de
encarar a morte. A relação com a sociedade e a importância
do nome da família vem do confuncionismo. Já do
xintoísmo trouxe a lealdade, tão importante para
o samurai.
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Ensinamentos
Entre
os 400 alunos que o Instituto Niten possui no Brasil todo encontram-se
pessoas de todos os tipos, como estudantes, empresários
e donas de casa. E, assim como os samurais do passado, que eram
educados de acordo com o BumBuRyoDo, ou a pena e a espada caminhando
juntos, no Niten eles aprendem também filosofia, história
e cultura japonesa.
Nossas
aulas são 70% práticas e 30% eventos culturais,
filosóficos e audiovisuais. Além disso, temos os
15 minutos de ouro onde ensino não só
a estratégia para vencer os combates como também
minha experiência pessoal do uso desse aprendizado no dia-a-dia,
explica o fundador do Niten, Jorge Kishikawa, que duas vezes por
ano vai ao Japão para estudar com os mestres nipônicos.
No
Japão, os mestres do kenjutsu (arte da espada samurai)
são considerados tesouros nacionais vivos.
Isto por causa do conhecimento, cultura e da arte passada de pai
para os filhos que eles mantêm, explica sobre esse
legado deixado pelos samurais. Segundo ele, depois da Segunda
Guerra Mundial, a prática do kenjutsu foi proibida, mas
ela não desapareceu, continuou secreta, passando de pai
para filho. (Em 1955 surge oficialmente o kendo, que é
uma simplificação do kenjutsu para ser praticado
como esporte e se assemelhar mais a esgrima européia).
Renan, de 7 anos, se apaixonou pela arte samurai através
do desenho animado do guerreiro Kenshin
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Wenzel
Böhn, que estuda a arte desde 95, exemplifica como esses
ensinamentos influenciam a vida das pessoas. Na hora do
combate você não pode esperar nada de ninguém,
a luta é iniciativa, você tem que decidir, conquistar.
As pessoas são educadas a esperar dos pais, do governo,
da empresa. Você aprende a transpor isso para a vida e passa
a tomar iniciativa e não ficar cobrando de outras pessoas,
esperando... Muda radicalmente a postura de cobrança para
ação.
De
pequeno
Fã
do desenho animado do samurai Kenshin, Renan Emílio Almgrem,
de 7 anos, não descansou até que o pai o matriculasse
na escola de samurais. E, há três meses freqüentando
as aulas, junto com os adultos, ele não se intimida: Ainda
não luto como o Kenshin, fala.
E o
interesse do menino pelos samurais acabou trazendo mais adeptos
para a arte. Há um mês o pai começou a frequentar
as aulas e até a irmã mais velha Hannah acabou aderindo.
Só minha mãe não vem, conta Renan.
Ele
já havia feito judô e karatê, participado e
até tido bons resultados em competições,
mas não como agora. Até o desempenho dele na escola,
o convívio com os amigos melhorou, conta Roberto,
o pai, orgulhoso.
E,
para quem acha que o garoto é pequeno para aprender a lutar
com uma espada, o professor Jorge, que também é
médico do esporte, tranqüiliza. Dos 4 aos 70
anos de idade não há problema algum.
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Kill Bill, que tem Uma Thurman com uma espada
samurai, Ao lado dela, Barbara que luta com duas espadas,
no estilo Musashi
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Mulheres
Outra
pessoa que não se intimida durante os treinamentos é
Barbara Guimarães Weiss, 17 anos. Quando entrei era
a mais perdida da turma, tinha 14 anos, todos eram maiores. Mas
eu queria tanto aprender... Hoje sou a única mulher que
luta com duas espadas no País, conta, entusiasmada,
falando sobre o método desenvolvido pelo mais famoso samurai,
Musashi (veja quadro abaixo).
Assim
como Renan, o interesse dela surgiu através do personagem
Kenshin, só que em mangá. Tenho pilhas de
mangás, todos em japonês, não consigo entender
nada... mas sempre adorei mangá, animê... Quando
encontrei a escola tive que brigar com minha mãe para poder
estudar, ela achava muito estranho, uma filha samurai, revela.
No
Niten, hoje 25% do público é feminino. As
mulheres têm jeito com a espada. Num combate a estratégia
é mais importante do que a força física.
Não há necessidade de força, não estimulo
o desenvolvimento de massa muscular, explica o professor
Jorge.
E,
seguindo essa onda samurai, em março entra em cartaz Kill
Bill, estrelado por Uma Thurman com uma espada na mão.
Na trama ela é uma assassina profissional que decide levar
uma vida normal, mas é impedida pelo antigo chefe Bill.
Depois de passar um bom tempo em coma no hospital, ela vai se
vingar do ex-patrão e das outras ex-companheiras como Lucy
Liu.
Nas
empresas
Nos
ultimos três anos o Instituto Niten cresceu 500%, aplicando
os conceitos que ensina principalmente quando faz treinamentos
para empresas. Segundo seu fundador, são qualidades como
determinação, disciplina, concentração
e trabalho em grupo, valores associados à alta produtividade
e eficiência.
Já
se dizia antes que os japoneses são samurais modernos por
causa da dedicação integral à empresa. Apesar
de se falar que o emprego vitalício no Japão está
deixando de existir, essa dedicação continua. São
mil anos de história dos samurais, isso não desaparece
de um dia para outro, diz Jorge.
O Go
Rin No Sho, o livro dos cinco círculos, escrito por Miyamoto
Musashi, é usado até hoje por executivos para traçar
estratégias de mercado e ética nos negócios.
Na obra, o samurai compilou seus conhecimentos nas artes das espada
e da estratégia.
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Musashi
Miyamoto
Musashi é o mais famoso samurai japonês, que viveu
presumivelmente entre 1584 e 1645. Desde criança, mostrava
habilidades acima da média, além de um físico
bem desenvolvido. Seu primeiro duelo foi aos treze anos, quando
derrotou um adulto. Aos dezesseis partiu em perigrinação
guerreira, durante a qual venceu mais de 60 duelos. Seu estilo
é o Niten Ichi Ryu, com duas espadas, que é ensinado
no Instituto Niten.
Dois
anos antes de morrer, Musashi se isolou numa caverna onde escreveu
o Go Rin No Sho, compilando seus conhecimentos nas artes da espada
e da estratégia.
No
Japão, o livro Musashi, que conta a vida do guerreiro,
já vendeu mais de 120 milhões de exemplares. No
cinema e TV foram, cerca de 15 obras sobre o samurai.
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