Nome: Domingos Hiroshi Tsuji
Data de nascimento: 9 de outubro de 1960
Local: Marialva (PR)
Bate-pronto
Medicina: dedicação
Saúde: atitudes saudáveis individuais
Voz: comunicação
Sonho: ser infalível com o paciente
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Arquivo
Jornal Nippo-Brasil
Conscientizar
a população sobre os problemas vocais e preveni-la
contra doenças. Esses são dois dos objetivos do
otorrinolaringologista Domingos Hiroshi Tsuji, presidente da Associação
Brasileira de Laringologia e Voz (ABLV).
O desafio
é grande. Estima-se que, só no Brasil, o câncer
de laringe uma das principais doenças do trato respiratório
afeta aproximadamente 15 mil pessoas por ano. Destes, 50%
resultam em morte.
Como
se não bastasse, o Brasil ainda é o segundo no ranking
dos países com maior incidência de câncer de
laringe, segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS).
Para
tentar reverter esse quadro, desde 1999, a ABLV realiza uma campanha
para detectar as doenças provocadas pela má utilização
da voz. No ano passado, cerca de 45 mil brasileiros foram avaliados,
sendo que 25% deles apresentaram problemas de laringe. Há
dois anos, uma conquista: a entidade conseguiu instituir, não
só no País, mas também internacionalmente,
o Dia Mundial da Voz, comemorado em 16 de abril, com o intuito
de esclarecer a importância e os principais cuidados para
evitar problemas.
Estamos
no sexto ano da campanha. Com certeza, a consciência hoje
é maior que em 99, mas não está em índices
satisfatórios, garante Tsuji.
A laringe
é um órgão que está em constante movimento
e separa a via respiratória da via digestiva. Exatamente
por esse motivo, sofre agressões das duas vias,
o que facilita o surgimento de doenças e inflamações.
Os
profissionais da voz como cantores, professores
e feirantes são os mais atingidos pelas doenças
que acometem a laringe. De acordo com a ABLV, mais de 70% da população
ativa tem na voz seu instrumento de trabalho, mesmo que ela não
seja o foco de suas atividades. Os professores são alguns
dos mais prejudicados. Cerca de 70% deles já apresentaram
problemas de voz. É um índice bastante alto. Desses,
uma pequena porcentagem, cerca de 2%, está afastada do
trabalho, revela o otorrinolaringologista.
Domingos
Tsuji tem um currículo de peso. Formou-se em Medicina pela
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP),
em 1985. Fez residência médica em Otorrinolaringologia
no Hospital das Clínicas de São Paulo, onde, desde
93, é contratado como médico-assistente. Nos anos
de 88 e 89, fez estágio de especialização
em Laringologia na Universidade de Keio, em Tóquio, no
Japão, como bolsista da Agência de Cooperação
Internacional do Japão (Jica).
Entre
91 e 93, trabalhou no Hospital Universitário da USP (HCFMUSP)
e no Hospital Nipo-Brasileiro. Em 97, fez doutorado em Otorrinolaringologia
e, cinco anos depois, fez Livre Docência, ambas pela USP.
Em 96, foi premiado pelo melhor trabalho na área de Laringologia
no 33º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia, além
de receber menções honrosas nos anos de 2001 e 2002.
Segundo
ele, a paixão pela área surgiu por acaso. Graças
ao estágio que fiz no Japão, pude estudar a aplicação
da endoscopia na área da laringologia. A partir daí,
vi a necessidade que o Brasil tem de equipamentos e a falta de
conhecimento básico. Realmente me apaixonei pela profissão,
estudei muito no Japão e fui aceito no Hospital das Clínicas,
onde pude aplicar toda a tecnologia e os novos conhecimentos que
adquiri por lá, conta.
No
ano passado, Tsuji assumiu a presidência da ABLV, e deverá
deixar o cargo em outubro de 2005. A associação
tem o objetivo primordial de congregar os otorrinolaringologistas
do Brasil e desenvolver para essa sociedade atividades que sirvam,
principalmente, para a formação acadêmica
e científica desses profissionais, explica. Atualmente,
a ABLV tem cerca de 3 mil médicos associados.
Em
entrevista ao NB, Tsuji revela os fatores que influenciam no aparecimento
das doenças da voz e os cuidados que as pessoas devem ter
para ter uma saúde vocal melhor.
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NB
Quais os motivos que levam o Brasil a apresentar altos
índices de câncer de laringe, sendo o 2º no
ranking mundial, de acordo com a OMS?
DT O índice de morte decorrente do câncer
de laringe é muito grande, porque os pacientes que procuram
o médico já vêm em estágio avançado
da doença. E isso acontece justamente porque eles não
têm informação. Para se ter uma idéia,
esse mesmo câncer, que no Brasil mata cerca de 50% das pessoas,
teria quase 100% de chances de cura se fosse detectado no começo.
Entre as doenças da cabeça e do pescoço,
essa é a que tem o maior índice de curabilidade.
NB
Qual o perfil das pessoas que contraem a doença?
DT Algumas pessoas têm uma predisposição
para ter a doença. E os principais vilões para quem
tem essa predisposição são o álcool
e o fumo. O cigarro tem dezenas, se não centenas, de substâncias
que são capazes de estimular a gênese do câncer.
Ele aumenta de 10 a 14 vezes a possibiliade de ela ter um câncer.
Agora, se acrescentar a isso o álcool, essa possibilidade
dobra. Há pessoas que não fumam e desenvolvem a
doença. Isso significa que elas também têm
uma predisposição a ter. O refluxo do ácido
do estômago também contribui. Ele provoca uma irritação
química, que gera uma inflação crônica
que, por sua vez, significa a reciclagem de células. Quando
se formam muitas células novas, as chances de surgir uma
célula cancerígena aumenta. Graças a Deus,
na área de laringologia e voz, a maioria dos problemas
que surgem não são câncer, são doenças
inflamatórias que acontecem e que são absolutamente
benignas. Muitos dos problemas vocais são decorrentes de
um uso inadequado da voz. Se você aprender a usar a voz
de forma a ter o desempenho que você quer, mas sem forçar
a voz, você terá uma saúde vocal melhor. E
para você saber se está ou não usando direito
a voz, você precisa ter uma orientação.
NB
E quais os tratamentos indicados para as pessoas que têm
câncer de laringe?
DT A maioria das condições dos estágios
de câncer de laringe, eu diria, quase todos, nem merecem
tratamento. Mas podemos dividi-lo em três linhas básicas.
Uma é o tratamento cirúrgico. A outra é a
radioterapia. Dependendo do estágio em que a doença
está, ainda é possível fazer a junção
das duas. De uns cinco a dez anos para cá, a quimioterapia
também tem sido aplicada com sucesso juntamente com a radioterapia.
Mas cada situação é uma situação.
NB
O que as pessoas devem fazer para ter uma saúde
vocal melhor?
DT Se é um profissional que usa a voz para trablhar,
o que chamamos de voz profissional, todos, na minha
opinião, mereceriam uma avaliação e uma orientação
fonoaudiológica. Já uma pessoa comum pode, ela mesma,
tomar alguns cuidados, como não fumar, não tomar
bebidas alcoólicas em excesso, não comer comidas
gordurosas ou ácidas, que prejudicam o estômago,
tomar bastante água, pois o líquido lubrifica o
organismo, e as cordas vocais, nessas condições,
trabalham melhor. Além disso, ter o cuidado com a voz:
não gritar, não falar em excesso por um período
prolongado, procurar não forçar a voz durante uma
crise alérgica ou com resfriado, pois as cordas já
estão inflamadas. Tudo o que gera esforço na voz
não é bom.
NB
Quais os desafios que o Brasil tem pela frente, no que
diz respeito à prevenção das doenças
vocais?
DT A melhor forma de diminuir um problema populacional
é a divulgação. Campanhas como as nossas
são muito interessantes, mas, se tivessem o apoio governamental,
e não só estadual e municipal, acho que aumentaria
muito a conscientização da população.
Na verdade, o problema de saúde no Brasil é crônico
e ninguém nega isso. É preciso, também, melhorar
os postos de atendimento médico. Existem profissionais
excelentes no Brasil e ninguém precisa ir pro exterior
para ter um atendimento médico adequado. Temos hospitais
que são de ponta, são os melhores do mundo. Mas
é uma minoria que tem acesso.
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