(Arquivo
NippoBrasil)
Muitas
são as comunidades alternativas, também conhecidas
como ecovilas, espalhadas pelo País. Cada comunidade conserva
a sua peculiaridade, algumas são auto-sustentáveis,
mas todas tem a preocupação de preservar o meio
ambiente, por isso, geralmente, estão localizadas em um
local próximo a natureza. O grande princípio desse
tipo de comunidade é a busca do equilíbrio entre
corpo, mente e espírito. Mas qual será o motivo
de milhares de pessoas largarem o dia-a-dia em uma cidade grande
e morarem quase que isolados?
Quem
pode muito bem responder à essa questão é
Rute Kimy Misaki. Moradora da Comunidade do Vale do Matutu, atualmente
conhecida como Reserva Natural Matutu, no sul de Minas Gerais,
ela diz estar realizada em todos os sentidos. Não
penso em sair mais daqui, pois o meu trabalho é bem reconhecido,
valorizado e a qualidade de vida é muito boa.
luRute e seus colegas do curso de Sidda Samadhi Yoga
A comunidade
foi formada em 1894, por forasteiros, médicos, engenheiros,
psicólogos, professores de São Paulo, Minas e outros
estados, que compraram pequenos sítios, fixaram-se e foram
espalhando suas convicções religiosas e preservacionistas.
Hoje, são cerca de 120 pessoas, de 5 a 65 anos, que vivem
em completa harmonia com a natureza.
Rute
mora na comunidade há 12 anos e trabalha como massagista
em uma pousada, além de toda semana, arrumar os arranjos
de flores do local, pois fez um curso de ikebana. Também
coordena a oficina de artes, onde ensina principalmente a produzir
mandala de flores. O cultivo de plantas medicinais em sua casa
é outra atividade lucrativa e prazeirosa. As plantas viram
chás, travesseiros, remédios, óleos, pomadas,
sabonetes, entre outros produtos. As vendas são voltadas
para os turistas e às lojas das proximidades. Ao todo,
Rute cultiva 70 espécies introduzidas e 50 nativas, por
isso mantém uma herbária, que é um fichário
de plantas medicinais, onde seca e cataloga cuidadosamente todas
as espécies.
Sem
mostrar um pingo de cansaso, Rute diz que sempre que possível,
presta trabalho voluntário, dando atendimento a moradores
da comunidade, tais como: medir a pressão, recomendar dietas,
indicar chás e pomadas. É bom poder andar
e conversar com as pessoas nativas, acho interessante, revela.
Antes
de morar no Vale do Matutu, Rute era massagista em Belo Horizonte.
Conheceu a comunidade através de um casal de amigos. Gostou
tanto das matas, da cachoeira e do estilo de vida dos moradores,
que resolveu mudar com o marido e as três filhas para o
local. Seu marido foi quem implantou o sistema de apicultura e
atualmente a comunidade já vende os méis produzidos.
Pouco tempo depois da mudança, seu marido acabou falecendo
e Rute precisava manter as filhas. Por isso, continuou trabalhando
como massagista em outros estados, como São Paulo, Belo
Horizonte e Rio de Janeiro. Entretanto a massagista conta que
agora o fluxo de turistas está maior, consequentemente
os clientes aumentaram e as vendas de seus produtos melhoraram,
por isso ela já consegue se manter exclusivamente com o
trabalho que desenvolve no Matutu.
Rute cultiva plantas medicinais
Rute
casou-se novamente, com um ceramista da comunidade e teve mais
um filho, que está com 7 anos, o único que vive
atualmente no Vale. Como as filhas do primeiro casamento são
adolescentes, estão com 19, 17 e 16 anos, foram morar fora.
As duas primeiras estão em Belo Horizonte e a mais nova
em São Lourenço, todas na casa de amigas. O motivo
dessa mudança, é que na comunidade há apenas
uma escola com ensino fundamental.
Acerimônia de casamento de Prama e Maha aconteceu
na comunidade
|
A nikkei
conta que passou a infância e adolescência em uma
comunidade nipo-brasileira, em Nova Friburgo, Rio de Janeiro,
e por isso já estava acostumada com esse tipo de vida.
Para ela, a importância em viver nesse tipo de ambiente,
é a valorização do convívio com pessoas
diferentes, pois com isso, aprende a ter tolerância, cultivar
a amizade, além de poder viver em contato com a natureza.
Acho que é um ambiente ideal para criar os filhos,
porque eles têm muito espaço para brincar e uma vida
mais saudável.
A comunidade
tem um regimento interno, além do estatuto. Um coordenador
do bairro e um conselho formado por moradores, ajudam a organizar
as assembléias, na qual são discutidos os problemas
e as conquistas do local. As casas são adquiridas por sistema
de cotas, seguindo uma arquitetura voltado ao estilo oriental
e utilizando-se muita madeira, retirada da própria floresta.
Nas tardes de domingo, é normal acontecer uma reunião
para oração, e é o momento em que todos os
moradores se reúnem. Rute resume sua vivência na
comunidade em poucas palavras: conciliar a filosofia à
arte e à ciência é a minha intenção,
como moradora do Matutu.
O caso
de Paulo Roberto Nakashima e Mara Ligia Alves Nakashima é
um pouco diferente. Eles são moradores de Nova Gokula,
comunidade Hare Krishna, localizada em Pindamonhangaba. Os dois
são moradores da comunidade há seis anos. Conheceram-se
e casaram-se no local, e a cerimônia respeitou o ritual
Krishna.
Paulo,
que é conhecido por Primananda Das, seu nome de iniciação.
Entrou na comunidade através de amigos devotos, que sempre
frequentavam o local. Antes, praticava o sacerdócio em
outras cidades do interior. Mara, que é conhecida como
Maha Lila Devi Dasi, trabalhava como sankirtaneira (distribuia
livros de Hare Krishna), em São Carlos, interior de São
Paulo, e também conheceu Nova Gokula através de
amigos.
Atualmente,
Prima está trabalhando como dekassegui no Japão,
mas em setembro pretende voltar à comunidade e continuar
seu trabalho de pujari, pessoa que cuida das deidades (figuras
consideradas manifestações de Krishna). Esse
trabalho é para ele conseguir uma paz interior, para poder
se dedicar exclusivamente à Krishna, já que recebemos
apenas uma pequena ajuda de custo, explica sua esposa. Maha
Lila além de ser pujarini, começou a trabalhar na
fábrica de insensos, localizada dentro da fazenda, e também
é mestra de ashiman (pessoa que cuida de crianças).
A atividade na fábrica ajuda a ocupar seu tempo e esquecer
a ausência do marido. Ele diz que esse vida de dekassegui
não é para ele, tanto que não vê a
hora de voltar, para se dedicar totalmente à Krishna,
conta.
A alimentação
de um devoto de Hare Krishna é totalmente lactovegetariana,
ou seja, não consomem carne, peixe e ovos, para desenvolver
a misericórdia por todos os seres vivos. Costumam consumir
verduras, legumes e muito grão. A rotina de quem vive em
uma comunidade Hare Krishna não é fácil.
Além de todos os preceitos filosóficos, as roupas
indianas e os incensos, outras coisas distinguem os devotos dos
demais mortais da face da terra. Isso porque o dia-a-dia começa
muito cedo, às 4h30 da manhã, com uma cerimônia
coletiva de adoração a Krishna. Segundo os adeptos,
esse horário é escolhido porque a cidade ainda está
calma, sem muitas vibrações.
Apesar
dos horários parecerem rigorosos, Maha Lila não
se queixa e diz que quando sai da comunidade, mesmo por alguns
dias, não consegue desviar seus pensamentos de Nova Gokula.
Eu e meu marido pretendemos morar aqui para o resto da vida,
aqui é o nosso lugar, comenta.
|
Um
pouco da história das duas comunidades
Reserva
Natural Matutu:
a comunidade surgiu em 1984, através de um grupo de
pessoas que buscavam o retorno à natureza e de um convívio
solidário. As nascentes das montanhas do Matutu traduzem
o significado do seu nome indígena: cabeceiras sagradas.
Está situada no sul de Minas Gerais e possui uma área
de 3 mil hectares. Atualmente são cerca de 120 moradores
que estudam e trabalham no local. As pessoas que iniciaram a comunidade,
em sua grande parte de origem urbana, trouxeram várias
habilidades. São professores, técnicos, artistas
e terapeutas que puderam conciliar novas atividades produtivas
e educacionais com as práticas rurais tradicionais dos
antigos habitantes do lugar.
Os
moradores do Matutu cultivam a agricultura orgânica e buscam
a subsistência como base econômica rural. A apicultura
e o extrativismo florestal completam a economia da comunidade.
A Reserva recebe visitantes de várias partes do país
e estrangeiros também, por isso, as pousadas e casas da
região ficam sempre cheias nos feriados.
Os
artistas e artesãos da comunidade se incumbem de produzir
móveis e objetos de resíduos florestais, tecelagem
de fibras naturais, cerâmicas, fitocosméticos e produtos
terapêuticos com ervas medicinais. Também existe
na cidade de Airuoca, uma pequena indústria de prismas
de vidro, que são utilizados para a harmonização
de ambientes. Essas produções geraram parcerias
e novos empregos na zona rural e urbana.
Nova
Gokula:
As atividades na comunidade rural iniciaram-se em 1978. Significa
a concretização do sonho de um grupo de devotos
de Krishna, reunidos em torno de um ideal espiritual. Os moradores
dessa comunidade são seguidores dos preceitos de uma filosofia
de vida baseada nos princípios da cultura védica,
que floresceu na Índia. O conceito filosófico mais
importante desta cultura, prescreve que todos devem moldar a vida
de tal forma que possa aproveitá-la integralmente no objetivo
da auto-realização.
Hoje
em dia, Nova Gokula é um centro de encontro de muitos alternativos,
naturalistas e, principalmente, espiritualistas, mas antes de
mais nada, uma comunidade cujo centro é Krishna. Os devotos
pioneiros encontraram um vale na região de Ribeirão
Grande, na cidade de Pindamonhangaba, localizado a 150 km de São
Paulo. Dominando a paisagem, vê-se a serra da Mantiqueira,
com suas cachoeiras que descem dos altos picos, até formar
o rio que cruza a propriedade. Faz parte da área de proteção
ambiental da Serra da Mantiqueira. A terra foi batizada de Nova
Gokula, porque Gokula foi o lugar onde Krishna passou os primeiros
anos de Sua infância.
No
começo, existiam duas pequenas casas, que foram completamente
reformadas, e em 1993 foi inaugurado o primeiro templo em estilo
neovédico do Brasil. À primeira vista, a construção
chama a atenção pelo estilo oriental, com cúpulas
e símbolos védicos em alto relevo. A decoração
interna foi feita por devotos artistas, que se inspiraram na arte
e arquitetura indianas. Mais informações através
do site: www.harekrishna.com.br/novagokula
|