Em
1930, a professora Michie Akama e seu marido Jiuji alcançavam
a costa brasileira a bordo do Montevideo Maru. Vindos da província
de Miyagui, o casal, como a grande maioria dos imigrantes, foi
levado para as lavouras de café, na cidade de Cafelândia,
interior de São Paulo.
Após
três anos vivendo numa fazenda, a professora mudou-se para
a capital do Estado e fundou a Escola Feminina de Corte e Costura
de São Paulo (São Paulo Saiho Jogakuin), no bairro
da Liberdade. Começava a história de dedicação
em prol do ensino e das relações entre Brasil-Japão.
Antiga sede da Escola Particular Akama
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Na
primeira fase, a Saiho Jogakuin, escola para moças em regime
de internato, oferecia aulas de etiqueta, culinária, música
e educação física. E, logo implantou o ensino
do idioma japonês para atender as necessidades da comunidade
nikkei -na época era o único curso de nível
médio, reconhecido, existente no País.
Porém,
para atender as especificações foi necessário
que a professora importasse o material didático do arquipélago
e também contratasse profissionais japoneses com formação
superior para lecionar em sua escola.
Na
época, as pessoas que quisessem adquirir uma educação
mais refinada, precisavam buscá-la nos grandes centros
urbanos da época. Como a maioria dos japoneses estavam
concentrados nas cidades interioranas, as famílias mais
abastadas enviavam suas filhas para a escola da professora Michie.
Em
1937, foi dado um passo importante para a complementação
da formação das moças, a inclusão
do ensino de português na grade curricular da Escola Particular
Akama São Paulo, novo nome adotado pela instituição.
A
partir disso, várias internas da Escola Akama obtiveram
certificado de magistério, habilitadas na modalidade de
corte e costura. Das moças que se formaram, muitas retornaram
a suas cidades-natais para abrir escolas de corte e costura (veja
quadro).
Sempre
em busca de inovações, Michie enriqueceu o curso
com aulas de cultura, como a pintura e o tanká (poesia),
e mais do que isso, em 1950 foi criado o curso supletivo para
o nível secundário.
A Fundação
Instituto Educacional Dona Michie Akama foi inaugurada em 1958,
visando crescer e adequar-se dentro da nova realidade, a integração
com a sociedade brasileira.
A construção
do prédio atual, na Vila Clementino, teve início
em 1965 e no começo da década de 70 foi inaugurado
o Centro Educacional Pioneiro. Nesta nova fase, a instituição
foi aberta para meninos e começava a focar como objetivo
principal o ensino infantil e fundamental, nos moldes regulares.
Aos
poucos, as aulas de corte e costura foram dando espaço
para a educação moderna, e hoje, o centro tem mais
de 900 alunos matriculados. Entre as novidades mais recentes está
a disponibilização do ensino médio, que formará
sua primeira turma no final deste ano -mais um presente para comemorar
os cem anos da educadora.
Segundo
Regina Akama, coordenadora de comunicação do instituto,
o sonho de Michie era poder ver a escola oferecer a formação
para seus alunos desde o maternal até o 3º colegial.
Há três anos esse desejo foi alcançado,
agora a educadora quer ir mais longe, ver o Centro Educacional
Pioneiro transformar-se numa universidade, revela.
Além
do impressionante trabalho desenvolvido ao longo dos mais de 70
anos a frente das instituições de ensino, a educadora
publicou três obras, Boas Maneiras na Vida Brasileira
e outros dois livros de memórias.
Ao
longo de sua carreira, a professora teve reconhecida, em várias
ocasiões, sua luta e esforço pela integração
dos dois povos e suas culturas. Entre as graças recebidas
estão a comenda Zuihooshoo (Tesouro Sagrado) de 5º
grau pelo governo japonês, em 1978; a Ordem do Ipiranga
pelo governo do Estado, em 1983; e homenagem prestada pela Universidade
de São Paulo (USP), em 2001.
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